Cancros do sangue: que avanços e inovações? 

Setembro é o mês das doenças hemato-oncológicas, mais conhecidas como cancros do sangue. A 15 de setembro assinala-se o Dia Mundial do Linfoma e a 22 o Dia da Leucemia Mielóide Crónica. Duas doenças que cada vez mais têm um melhor prognóstico graças à evolução do diagnóstico e dos tratamentos.
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Quando falamos de cancros do sangue estamos a referirmo-nos, em regra geral, a todos os tumores hematológicos que têm origem não apenas nas células do sangue, mas também nas células do sistema imunológico de que o sangue faz parte. O sistema imunológico é composto por vários tipos de células, sendo as mais frequentes os neutrófilos, os linfócitos e os plasmócitos. Estas células podem encontrar-se no sangue, na medula óssea, nos gânglios e no baço. Assim, podemos dizer que não existe um cancro do sangue, mas vários e diferentes. Cada caso é um caso.

Em condições normais, estas células são responsáveis pela defesa do nosso organismo e protegem-nos de ataques externos como vírus ou bactérias, ou mesmo do próprio cancro. Por mecanismos que na maioria das vezes não conseguimos identificar, durante o processo de desenvolvimento das células do sistema imunológico, acontecem erros genéticos que transformam as células normais em células malignas que dão origem ao cancro.

Os tumores hematológicos mais frequentes são os linfomas, as leucemias e o mieloma múltiplo. A grande diferença entre os linfomas e as leucemias é que no caso dos linfomas as células malignas localizam-se na maioria das vezes nos gânglios linfáticos onde formam tumores, enquanto nas leucemias as células malignas localizam-se na medula óssea e circulam no sangue. O mieloma múltiplo afeta sobretudo os ossos onde provoca destruição.

Mas quais foram as evoluções em relação ao diagnóstico e tratamento dos cancros do sangue? Nos últimos anos houve uma evolução enorme em relação aos tumores hematológicos, quer a nível do diagnóstico e estadiamento, quer ao nível do tratamento. Ao nível do diagnóstico a introdução de novas tecnologias de genética permite hoje identificar alterações genéticas no tumor que nos dão uma informação em relação à sua agressividade,prognóstico e, ainda mais importante, permitem-nos muitas vezes identificar o tratamento mais adequado para um determinado doente, de acordo com as alterações genéticas identificadas.

Em relação ao tratamento, nos últimos anos, os maiores avanços na área da oncologia ocorreram no tratamento dos cancros do sangue, com a introdução de novos fármacos para além da tradicional quimioterapia. Entre estes destaco a utilização de anticorpos monoclonais no tratamento do linfoma, introduzidos há cerca de 20 anos e agora em utilização na maioria dos outros tumores.

Um outro cancro do sangue, a leucemia mielóide crónica, foi também pioneira na utilização de uma outra classe de fármacos designada por pequenas moléculas que inibem alterações genéticas específicas e é hoje também utilizada em muitos outros cancros, constituindo um exemplo de medicina de precisão, onde se escolhe o tratamento em função da alteração genética do tumor, o que permite uma melhoria significativa nos resultados e uma redução nos efeitos colaterais secundários ao tratamento.

Mais recentemente, os cancros do sangue foram pioneiros na introdução de novas tecnologias em relação ao tratamento: refiro-me à recente introdução da terapia celular com células geneticamente modificadas (células CAR T), para o tratamento de alguns tipos de linfoma e leucemia. Nesta tecnologia os linfócitos T dos doentes são colhidos e geneticamente modificados em laboratório, após o que são novamente infundidos no sangue do doente para combater o linfoma, permitindo a cura de linfomas que foram resistentes aos tratamentos convencionais.

Fala-se muito na prevenção e no que cada um pode fazer para diminuir o risco de ter cancro do sangue. Não existe uma única medida isolada e milagrosa. É fundamental, porém, adotar medidas gerais que promovam uma vida saudável, nomeadamente evitar os cigarros, fazer exercício físico, evitar o excesso de açúcares e de álcool, controlar o peso e fazer um acompanhamento médico regular, para que o problema possa ser identificado mais precocemente. Com estas medidas irá reduzir o risco de contrair não só o cancro do sangue como também de qualquer outro.

Importa também manter uma vigilância regular com o seu médico e na presença de sintomas procurar avaliação o mais precocemente possível. Lembre-se que quanto mais localizada e mais cedo for detetada a doença, maior será a probabilidade de cura. Consulte um especialista, é a melhor forma de prevenir qualquer problema.

Onco-hematologista no Hospital CUF Porto e no IPO Porto

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