Cancro do rim: a importância do diagnóstico precoce

No Dia Mundial do Cancro do Rim, que se assinala a 17 de junho, é importante sublinhar que embora seja uma doença grave em fases avançadas, detetá-la e tratá-la precocemente torna muito provável a cura. Prevenir é fundamental.
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O cancro do rim representa cerca de 3% de todos os cancros e a sua incidência tem vindo a aumentar nas últimas décadas. Recentemente, na União Europeia, houve um aumento anual em cerca de 2%, contribuindo em 2018 para 99.200 novos casos e 39.100 mortes. Em Portugal, é o 13º mais frequente de todos os tipos de cancro. Em 2018, foram diagnosticados 1301 novos casos e morreram 507 pessoas, o que representa cerca de 1,8% de todas as mortes por cancro em Portugal.

Desde as últimas décadas do século XX que a mortalidade tem vindo a diminuir. Para esta diminuição tem contribuído muito o diagnóstico precoce com a realização de ecografias e tomografias computorizadas de rotina e a melhoria dos tratamentos com a deteção de tumores pequenos. Embora o cancro do rim seja uma doença grave em fases avançadas, detetá-la e tratá-la precocemente torna muito provável a cura.

Hoje em dia, o diagnóstico incidental de pequenos cancros e a caracterização do tipo de tumor por biópsia percutânea permite realizar muitos procedimentos minimamente invasivos, utilizando a cirurgia robótica ou outras técnicas alternativas como procedimentos ablativos percutâneos ou mesmo vigilância ativa - isto é, vigiar sem tratamento.

Os fatores de risco estabelecidos para cancro do rim incluem fatores de estilo de vida, tais como tabagismo, obesidade e hipertensão. A atividade física parece ter um pequeno efeito protetor. Assim, a melhor prevenção é evitar fumar e ter uma alimentação saudável, evitando também a obesidade. Para além dos fatores associados ao estilo de vida, alguns tumores renais têm um forte componente genético. No caso de haver história familiar de cancros é muito importante procurar um urologista para aconselhamento da necessidade de se efetuar um estudo genético e fazer um diagnóstico precoce oportuno mais cedo.

O cancro do rim que afeta várias gerações de uma família é chamado de cancro renal hereditário. Sendo raro, representa apenas 5% a 8% de todos os cancros renais. Geralmente está associada a uma síndrome hereditária, que se caracteriza por um conjunto de sinais e sintomas ou condições que ocorrem ​​por certas alterações nos genes que podem ser transmitidos de pai para filho. No caso do cancro do rim, as principais síndromes hereditárias existentes são a doença de von Hippel-Lindau, cancro renal papilar hereditário, leiomiomatose hereditária e o síndrome de Birt-Hogg-Dubé.

Os cancros renais hereditários e não hereditários diferem de várias maneiras. O cancro renal hereditário geralmente é diagnosticado em idades mais precoces do que o esporádico. Alguns tipos de cancro renal hereditário podem ser mais ou menos agressivos do que o esporádico. Os tratamentos também podem ser diferentes. No caso da doença de Von Hippel-Lindau, cancro renal papilar hereditário e síndrome de Birt-Hogg-Dubé, os tumores tendem a ser menos agressivos, bilaterais e recorrentes. Neste caso, existe indicação para o tratamento ser o mais preservador possível do parênquima renal, que se consegue com a cirurgia robótica e técnicas ablativas percutâneas. No caso da leiomiomatose hereditária, o cancro é extremamente agressivo e por isso devem-se retirar os cancros do rim com uma grande margem de segurança.

É muito importante o diagnóstico dos cancros hereditários porque o cancro do rim é mais frequente entre os 50 e 70 anos, mas, quando associado a causas genéticas, os cancros ocorrem em idades mais jovens e existe um maior risco de desenvolver outras doenças ou outros tipos de cancros.

Na CUF existe uma equipa multidisciplinar especializada no tratamento do cancro do rim. Todos os casos são discutidos em consulta multidisciplinar e a maioria dos doentes com pequenos tumores realizam biópsia percutânea de forma a evitar serem submetidos a mais cirurgias e, no caso de ser necessário, serem feitas com a melhor técnica cirúrgica. No caso de ser necessário fazer cirurgia, dispomos de um robô que permite uma melhor preservação, com menor risco de complicações.

E não se esqueça: prevenir é o melhor remédio. Consulte o seu médico!

Estêvão Lima, Coordenador de Urologia CUF e da Unidade de tumores urológicos da CUF Oncologia - Professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho

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