Cancro do fígado: o sexto tumor mais maligno e o terceiro mais mortal a nível global
O cancro do fígado é um problema de saúde pública muito importante. A nível mundial, é o sexto tumor maligno mais frequente e o terceiro mais mortal. A região com maior incidência de cancro do fígado é a Ásia. Em Portugal, apesar de os números não serem tão contundentes, é o décimo tumor maligno mais comum, com 1740 novos casos registados em 2022 – logo depois do cancro do pâncreas – e é a sétima causa de morte por cancro, segundo dados da Organização Mundial de Saúde.
Surge mais frequentemente nos homens e, no caso dos países ocidentais, em pessoas com cirrose hepática, que por sua vez pode ser causada por excesso de consumo de álcool, infecção por vírus da hepatite B ou C ou por doença hepática crónica ligada à esteatose hepática, o chamado “fígado gordo”.
A consciencialização para este tipo de tumor maligno é importante sobretudo porque habitualmente os sintomas só surgem em fases avançadas da doença. Por essa razão, deve ser feita vigilância em populações de risco, o que é prática corrente em Portugal, através de ecografia.
As opções no tratamento do cancro do fígado têm sofrido uma enorme evolução, sobretudo no campo da terapêutica sistémica, onde novos fármacos demonstram resultados promissores, conseguindo muitas vezes controlar a doença. Isto apesar de não terem, na maioria dos casos, capacidade de curar o doente com cancro do fígado.
Os tratamentos com maior potencial de cura variam desde intervenções loco-regionais, como o recurso a destruição com microondas, radiofrequência ou quimioembolização, até à cirurgia. Neste campo, a cirurgia minimamente invasiva teve também uma grande evolução, com o aparecimento da cirurgia robótica, que permite realizar cirurgias complexas ao fígado com grande precisão e segurança – e com menor trauma cirúrgico. Desta forma, promove-se também uma mais rápida recuperação e um retorno mais precoce à atividade quotidiana.
O tratamento associado a maior taxa de cura em doentes criteriosamente seleccionados é o transplante de fígado, que remove não só a doença mas o próprio órgão, que tem o potencial de gerar novos tumores. No entanto, o transplante está reservado a uma pequena percentagem de doentes.
Para tratar este tipo de cancro, à semelhança de muitos outros, ou mesmo todos, é obrigatória uma abordagem multidisciplinar e individualizada: as situações clínicas dos doentes devem ser discutidas por uma equipa especializada e experiente, que propõe para cada doente o tipo de tratamento mais adequado.
Sendo o espectro de opções terapêuticas muito amplo, é fundamental que além dos cirurgiões especialistas em fígado e transplantação, também outras especialidades como a Hepatologia, Oncologia, Radiologia de diagnostico e de Intervenção, Anatomia Patológica, Medicina Nuclear e Radioterapia, entre outras, estejam envolvidas na escolha da melhor opção.
Por tudo isto, é muito importante que o tratamento do doente com cancro do fígado seja feito em centros especializados, que disponham dos meios necessários ao tratamento desta doença tão complexa.
Cirurgião geral na Unidade de Fígado, Vias biliares e Pâncreas do Hospital CUF Tejo