Campeão de luta
Sporting ou Benfica. Um deles vai sagrar-se Campeão Nacional de futebol e a única dúvida é se isso acontece já este sábado, no Estádio da Luz, ou se a decisão fica adiada para a última jornada e com influência minhota nas contas finais (Vitória de Guimarães e Sp. Braga serão, respetivamente, os adversários de leões e águias na 34.ª ronda).
Seja quem for que faça a festa, o título de campeão será um bom exemplo de que, mesmo quando tudo parece perdido, é sempre possível encontrar uma forma, um caminho, que permita retomar direção correta e que culmine num bom resultado final (evidentemente, há exceções à regra: basta ver o que aconteceu este ano no FC Porto...).
Olhando para a época em retrospetiva, os dois rivais lisboetas enfrentaram e superaram percalços de monta. Em Alvalade, à surpreendente saída de Ruben Amorim para o Manchester United já com a época em curso – quando o Sporting voava na liderança da Liga com 11 vitórias em outros tantos jogos, cavando um fosso de cinco pontos em relação ao Benfica, e seguro na Liga dos Campeões, com três vitórias e um empate – seguiu-se um erro de casting chamado João Pereira, aposta pessoal do presidente Frederico Varandas. O resultado foi desastroso: o ex-internacional português seria devolvido à Equipa B leonina após pouco mais de um mês no cargo, com o Sporting a cair para o 2.º lugar no campeonato e a dar vários sinais de fragilidade que ameaçavam fazer ruir a caminhada rumo ao bicampeonato (algo que foge aos leões há mais de 70 anos, ainda na era dourada dos famosos “Cinco Violinos”). Rui Borges foi o escolhido para salvar o sonho. O primeiro teste foi de fogo, precisamente no dérbi contra o Benfica, e a vitória (1-0) permitiu o regresso ao primeiro posto. De então para cá, o Sporting, mesmo com altos e baixos, ganhou, pelo menos, segurança e, com ela, a confiança regressou a Alvalade, impulsionada pela super época (mais uma) do avançado sueco Gyökeres (38 golos na prova) e, também, de Trincão (o líder das assistências na Liga, com 14 passes para golo).
Já no Benfica, o problema foi o arranque enguiçado. Depois de construir o plantel e preparar a pré-época, o alemão Roger Schmidt seria despedido logo à 4.ª jornada, quando o Benfica já tinha perdido cinco pontos. Para o seu lugar, foi promovido o regresso à Luz de Bruno Lage, que tinha a vantagem de já conhecer os cantos à casa onde foi campeão. A aposta de Rui Costa foi menos arriscada do que a que Frederico Varandas fez em Alvalade. E, de facto, compensou: o Benfica, que também usufrui de ter o plantel mais completo da Liga, recuperou a confiança e termina a temporada com fulgor, podendo até ambicionar repetir o triplete de 2013/14, se juntar à Taça da Liga, o campeonato e a Taça de Portugal (onde o adversário será precisamente o Sporting).
O Campeão Nacional 2024/25, no máximo, terminará a temporada com 84 pontos. Para se encontrar um desempenho pior, é preciso recuar a 2019/20 (FC Porto campeão, com 82 pontos). Mas o que é que isso importa, se tiver o troféu na mão? A época 2024/25 mostra bem que, por mais anunciados que sejam os desastres, há sempre espaço para corrigir. Quem o consegue fazer mais depressa, fica mais próximo do sucesso. Seja Benfica ou Sporting, este será um campeão resiliente. Sem grande nota artística, mas com caráter lutador.
Editor Executivo do Diário de Notícias