Budismo chinês
Conforme a Constituição da República Popular da China, os seus cidadãos têm liberdade de crença religiosa; nenhum órgão estatal, grupo social ou indivíduo pode forçar um cidadão a abraçar ou não uma religião, nem discriminar um cidadão crente ou não crente; o Estado protege atividades religiosas normais.
Na China atual, as cinco maiores religiões são budismo, taoismo, islamismo, catolicismo e protestantismo, com mais de 2000, 1700, 1300, 1300 e 200 anos respetivos de existência no território, entre as quais o taoismo é originário da China e o budismo tem o maior número de seguidores. A maior parte dos chineses não abraça nenhuma dessas religiões, mas respeita todas elas.
O budismo entrou na China no ano 2 a.C. e em 68 foi construído o Templo de Cavalo Branco em Luoyang, iniciando a sua divulgação e desenvolvimento no Império do Meio. Influenciado pela rota da sua passagem e pela cultura étnica da zona da sua divulgação, o budismo espalhado pelo país passou a ter as suas próprias características, existindo hoje três escolas, conforme a sua língua de divulgação, a saber: o Budismo Han (em língua chinesa), normalmente traduzido para “budismo chinês”, que é a maior escola budista na China, combinada com certos elementos da cultura chinesa; o Budismo Tibetano (em língua tibetana), introduzido no Tibete no séc. VII e o Budismo Theravada (em língua páli), que entrou no sul da China, nomeadamente na província Yunnan, também no século VII.
Sendo uma religião de paz, não se conhecem guerras entre os budistas.
Sendo uma religião combinada com a cultura chinesa, exerce uma grande influência na vida cultural e quotidiana dos chineses, seguidores e não seguidores. A Jornada ao Oeste, de Wu Cheng’en (c. 1504-1582), consagrada como uma das quatro obras-primas da literatura clássica chinesa, fala sobre a viagem de Tangseng (Monge Tang) à Índia para buscar sutras budistas. Montado num cavalo branco (filho do Rei Dragão do Mar Oeste), Tangseng foi escoltado pelos três discípulos, Sun Wukong (aliás o Rei dos Macacos), Zhu Bajie (Porco de oito Preceitos, o antigo marechal celeste) e Sha Heshang (Monge Sha, um antigo general celeste), tendo passado por 81 dificuldades, muitas vezes perigos de vida ou morte, para cumprir a missão. Trata-se de um excelente exemplo que combina o budismo com mitos, confucionismo, taoismo e filosofia antiga chinesa. O protótipo de Tangseng é o monge Xuanzang (602-664) que fez uma viagem à Índia durante 17 anos trazendo de lá imensas sutras budistas. Aliás a tradução de sutras budistas para chinês originou a 1.ª onda de tradução na história chinesa, que decorreu durante 1200 anos, de 27 a 1279, com uns 5000 volumes traduzidos. E o próprio Xuanzang foi um tradutor conceituado.
Dizem que há 2600 anos, por volta do ano 623 a.C., em 8 de abril lunar, a rainha Maya deu à luz o príncipe Sidarta, em Kapilavastu, Índia. Após o seu nascimento, nove dragões apareceram e banharam o príncipe com água abençoada, daí a origem da celebração do banho na imagem do Buda menino, conhecida também como Celebração do Nascimento do Buda, uma das festas mais importantes do budismo chinês. Além de homenagear o Buda Shakyamuni, “o ato de banhar o Buda foi idealizado para ajudar a limpar e purificar as nossas mentes, elevar a nossa moralidade, cultivar a nossa compaixão e aumentar o nosso respeito pelos outros”, pois, de acordo com a doutrina budista, o sofrimento vem do desejo; para livrar-se do sofrimento, é preciso abandonar o desejo; e para abandonar o desejo, é preciso purificar as mentes.
Merece salientar que em países e escolas diferentes, o nascimento do Buda pode ser celebrado em datas diferentes e de formas diferentes. Para os budistas da escola Han, em 2024, o aniversário do Buda calha em 15 de maio gregoriano. A BLIA - Associação Internacional Budda’s Light de Lisboa (composta pelos discípulos não monásticos) e o Templo Fo Guang Shan Portugal (formado pelos monges e monjas) vão realizar o Festival do Nascimento do Buda na Alameda em Lisboa nos dias 11 (das 11h00 às 20h30) e 12 (das 10h30 às 18h00) de maio, com apresentações culturais e Cerimónia sempre entre as 14h00 e as 16h30, seguidas de meditação, fórum em português e prática de taichi, além das tendas culturais (meditação com chá, arte do incenso, caligrafia, papagaios, etc.) e de comida vegetariana.