Brexit: o fantasma do regresso
Cinco anos após a saída do Reino Unido da União Europeia, os sentimentos predominantes entre os britânicos são de desilusão e de arrependimento. De acordo com uma sondagem recente, 55% da sua população acreditam que o Brexit foi um erro. Nos jovens de idades compreendidas entre 18 e 24 anos, esta convicção é ainda mais acentuada, com 75% a consideram que o divórcio da UE foi uma decisão errada.
As repercussões económicas do Brexit têm sido significativas. As barreiras comerciais e o aumento da burocracia transfronteiriça dificultaram os negócios, levando a uma queda nas exportações e nas importações. O Office for Budget Responsibility estima que, devido ao Brexit, o PIB do Reino Unido será 4% menor no longo prazo. À estagnação económica, acresceram nestes cinco anos um grande aumento da inflação, a perda de investimento estrangeiro, a escassez de mão de obra e o isolamento político. As promessas de acordos comerciais fortalecidos com outras geografias, nomeadamente com os Estados Unidos, nunca se concretizaram, deixando o Reino Unido a meio da ponte.
Politicamente, o Brexit reconfigurou o panorama do país. O fortalecimento do partido Reform UK, que recentemente ultrapassou o Partido Trabalhista numa sondagem nacional, reflete a insatisfação pública com as entidades políticas tradicionais, capitalizando sobre a confusão em que se encontra o país. É significativo verificar que é um partido eurocético aquele que maiores dividendos políticos obtém com uma situação que tem na origem justamente o Brexit. Parece cumprir-se a regra básica da extrema-direita populista de estar contra tudo e o seu contrário, lançar o discurso do caos e depois surgir como salvador da pátria.
Neste quadro, o debate sobre a relação futura com a UE ganha força e novos contornos. O Reino Unido corre atrás do prejuízo, sonhando com uma renegociação dos termos de cooperação que lhe permita beneficiar do mercado único, possivelmente através de um acordo semelhante ao da Noruega, que não é membro da UE, mas participa no Espaço Económico Europeu.
Este cenário não agrada a muitos Estados-membros, pois seria oferecer aos britânicos os benefícios da União, isentando-os dos deveres. As feridas deixadas pela separação não estão ainda cicatrizadas e é pouco provável que sejam os súbditos de sua majestade a ditar as regras de uma parceria futura.
Entretanto, uma sondagem revelou que 57% dos eleitores votariam agora a favor do regresso, pelo que o Briturn deixou de ser tabu. Sucede que tal exigiria a aprovação unânime dos Estados-membros, que provavelmente quereriam impor a adoção do euro e a participação no Espaço Schengen. Esta seria uma forma de reafirmar ao mundo os fundamentos do projeto europeu e, por outro lado, preveniria futuras recaídas. Estarão os britânicos preparados para tal humilhação?
Professor catedrático