Bora esplanadar?

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Estamos a desconfinar outra vez, desejosos de liberdade e de podermos saborear as pequenas coisas que, antes dadas como adquiridas, são hoje valorizadas de uma outra forma. No entanto, há uma questão que se impõe. Como encontrar um equilíbrio entre a necessidade de voltar à vida que chamamos de normal e, ao mesmo tempo, assegurar o cumprimento das regras de segurança? Que mensagens transmitir às crianças, e como, de modo que estas interiorizem as limitações existentes?

Estamos cansados de estar confinados, e isso é um facto. Fazer bolos e pão perdeu o encanto inicial, sentimos ânsia de recuperarmos o tempo perdido e hoje queremos é "esplanadar", um verbo agora mais usado do que nunca. Mas é também um facto que a pandemia está longe de estar debelada. Continuamos a ter vários concelhos com valores de contágio preocupantes, o que pode mesmo comprometer as várias etapas de desconfinamento que estão previstas.

Nos últimos dias, temos assistido a verdadeiras romarias pelas ruas das cidades, aldeias e lugarejos. Filas às portas das esplanadas, literalmente à procura de um lugar ao sol. Enchentes aqui e ali, com a primavera a convidar, sedutora. E crianças, muitas crianças, no meio dos adultos.

Crianças que, quais esponjas, absorvem tudo aquilo a que assistem em seu redor. Mais do que aprenderem com aquilo que lhes é dito, as crianças aprendem com aquilo que veem.

Ora, se veem os pais e outros adultos significativos quebrar as regras, seja porque se juntam em grandes grupos ou circulam entre concelhos quando tal é expressamente proibido, é isso que aprendem. Afinal, podemos juntar-nos aos nossos amigos, circular entre as casas de uns e outros, fazer festas clandestinas e desafiar toda e qualquer autoridade.

E quando estas crianças não são crianças, mas sim adolescentes, todas estas questões ganham uma outra dimensão. Desafiadores por excelência, questionam as normas e a autoridade parental, acreditando-se muitas vezes invencíveis e acima de quaisquer riscos ou perigos. Testar os limites pode ser uma forma de se afirmarem, num processo de autonomia, procura de identidade e, ao mesmo tempo, aceitação pelo grupo de pares.

Falamos, assim, da importância dos pais enquanto modelos. Se infringem as regras de forma clara, pois não se espantem quando os vossos filhos fizerem exatamente o mesmo. De nada adianta ralhar ou castigar quando os exemplos que damos vão no sentido contrário.

"Esplanadar" é ótimo e a restauração agradece. Passear e consumir também, a bem da economia. Mas sempre de forma responsável e avisada, sendo certo que temos cravados em nós os olhos dos mais pequenos.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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