Boom de aquisições no futebol europeu por fundos de investimento privados

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Já falámos de investimentos de fundos soberanos no futebol, enquanto instrumento de promoção da imagem de um país e aumento do seu soft power a nível internacional. Mas a larga maioria do investimento feito no futebol - e noutros desportos - provém de fundos privados. Os fundos privados que vamos analisar não são os que resultam de subscrições de ações das SAD, nem os provenientes de emissões obrigacionistas dos clubes ou de mútuos contraídos por eles junto de bancos. Neste artigo vamos focar-nos nos investimentos feitos por fundos e outras entidades financeiras, envolvendo entrada no capital social dessas SAD, enquanto parceiros financeiros a prazo, isto é, com o propósito de rentabilizar uma aplicação financeira com a sua venda.

Os fundos investem porque têm bons retornos, com vários exemplos a confirmar o que sucessivos analistas vêm afirmando. De acordo com a UEFA, os rendimentos totais (receitas de radiodifusão e comerciais de clubes) dos 55 clubes de topo da UEFA aumentaram de € 11,7 mil milhões (mM€) em 2009 para 21 mM€ no ano fiscal de 2018. Segundo um recente relatório de avaliação dos principais clubes europeus [The European Elite 2023] da KPMG Football Benchmark, o enterprise value (EV) agregado dos 32 mais proeminentes clubes de futebol europeus aumentou 96% no período de sete anos, de 2016 a 2023, um desempenho que supera largamente o Índice FTSE 100. E o crescimento do EV está a acelerar; em 2023, o EV agregado dos referidos 32 clubes aumentou para um valor recorde de 51,7 mM€ (+40% em relação ao ano anterior). Embora com um universo de [20] clubes ligeiramente diferente, o relatório da Deloitte Football Money League 2023, mostra também, em 2021/22, aumentos da receita total gerada de +13% em relação ao ano anterior.

Todavia, ainda de acordo com a UEFA, numa década os custos operacionais aumentaram 70%, principalmente devido aos salários dos jogadores, que quase duplicaram. Embora o futebol europeu se tenha tornado lucrativo nos últimos anos, quase metade dos clubes de primeira linha operam com défices, resultando em modelos de negócio insustentáveis; e a necessitar de injeções de capital. Durante o período da pandemia várias entidades financeiras aproveitaram para comprar equity em clubes com potencial.

Segundo um relatório da Pitchbook Data, 35,7% dos clubes das "cinco grandes" ligas (de Inglaterra, Espanha, Itália, França, Alemanha) têm private equities (PE), sociedades de capital de risco ou outros fundos privados [utilizando aquisições alavancadas (LBO)] no seu capital social, muitos dos quais dos EUA. A estratégia destes fundos é promover o crescimento das receitas, reestruturar e gerir melhor os clubes e cortar custos desnecessários; a reestruturação de um clube de futebol pode levar várias temporadas antes de produzir resultados, sendo que as PE operam com expectativas de retorno de investimento de 7 a 10 anos.

Mas deve estar a correr bem. Em 2022 e 2023 está a ter lugar uma explosão de investimentos e aquisições nestas "cinco grandes" ligas. Enquanto em 2018 as M&A (fusões e aquisições) no futebol europeu não passaram de 66,7 milhões de euros, sendo de 270 milhões em 2019, em 2022 foram gastos 4,9 mM€, prevendo a Pitchbook que ultrapasse os 10,5 mM€ este ano.

Consultor financeiro e business developer
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