Betão, intemporal

Os primeiros sinais de materiais de construção produzidos artificialmente remontam há 12 mil anos, ao que se seguiu o uso de novos ligantes. A Antiguidade Clássica é particularmente feliz no que respeita à arquitetura. Com base no conhecimento dos gregos, os romanos desenvolveram materiais e refinaram métodos construtivos, desafiando possibilidades e deixando-nos obras extraordinárias que associaram beleza, utilidade e eternidade. Para além de infraestruturas como estradas e portos, essenciais à expansão, comunicação e comércio, e aquedutos para fornecimento de água, até anfiteatros, palácios e monumentos dedicados aos deuses, que caracterizaram uma cultura e civilização, o opus caementitium, vulgarmente conhecido como cimento romano, marcou presença nesta herança comum.

Séculos depois, atravessando as Idades Média e Moderna, o fulgor do Renascimento, a expansão marítima com a chegada a novos continentes, territórios e populações, as revoluções sociais e industriais da Contemporaneidade, até chegar aos desafios e oportunidades do presente - como alterações climáticas, digitalização da construção e inteligência artificial -, o cimento e o betão permanecem aliados inestimáveis no nosso quotidiano.

O betão - que não existiria sem cimento - é essencial à segurança, proteção, conforto e património, sendo insubstituível pela magnitude em que é usado e incontornável para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Responde às necessidades prementes da Humanidade, como a construção de esgotos e saneamento básico - que, a par de algumas descobertas da Medicina, são determinantes para a Saúde Pública - ou infraestruturas de captura e reserva de água. É elemento fundamental em barragens, fundações de torres eólicas e grandes obras públicas, para as quais não há, à data, outro material com a mesma resistência. Sem betão não haveria, tal como os conhecemos, hospitais, escolas, tribunais, cinemas, teatros e demais estruturas partilhadas que compõem uma sociedade moderna, numa articulação que se pretende cada vez mais harmoniosa com a biodiversidade e com a expansão de espaços verdes nas cidades.

O betão dá forma aos sonhos de génios - o imperador romano Adriano, Jørn Utzon, Frank Lloyd Wright, Ludwig Mies van der Rohe e Antoni Gaudí - e permite conceber obras de rara beleza, como o Panteão de Roma, a Ópera de Sydney, a Waterfall House e o Museu Guggenheim, o Pavilhão Nacional da Alemanha para a Exposição Internacional de Barcelona e a fabulosa Sagrada Família. Que teve, aliás, de esperar muitos anos até que uma solução complexa de engenharia em betão estrutural permitisse a conclusão da Torre da Virgem, dando então vida à visão de Gaudí. A ponte Vasco da Gama, o Pavilhão de Portugal na Expo, a Casa da Música são exemplos mais recentes com os quais convivemos.

Cabe aos fabricantes, projetistas, engenheiros e arquitetos elevar o betão a novos patamares, inovando e dando forma e perenidade às grandes realizações da Humanidade. O betão responde a desafios civilizacionais e só com a sua utilização responsável teremos um futuro saudável e digno. O crescimento da população comporta dificuldades na gestão de recursos e satisfação de necessidades elementares, em contexto de crescente urbanização. Apenas o betão apresenta soluções exequíveis, independentemente de conceções teórico-filosóficas passadistas e que visam diabolizar um material que, na sua essência, é virtuoso há milhares de anos.

Desenvolvimento e sustentabilidade

Por ser um recurso acessível, pouco dispendioso, feito a partir de matérias-primas naturais extremamente abundantes e integralmente aproveitáveis, fácil de produzir localmente e manusear, o betão - do qual o cimento é constituinte essencial - é o produto mais consumido no mundo a seguir à água. Teve larga aplicação em todo o mundo nos últimos 100 anos, o que prova grande robustez e durabilidade.

Os edifícios e infraestruturas em betão apresentam resistência sísmica e ao fogo, daí a sua utilização em obras com impacto significativo na qualidade de vida, como barragens, pontes, viadutos, túneis, bases de pavimentos e infraestruturas ferroviárias, estas com influência no transporte coletivo e na mobilidade sustentável.

Nos edifícios e nos equipamentos públicos, a inércia térmica do betão contribui para reduzir a necessidade de climatização artificial. A capacidade do betão de absorver a energia solar recebida, de a armazenar - evitando o sobreaquecimento - e libertar progressivamente sob a forma de calor durante a noite, ajuda a manter as temperaturas interiores constantes. Tal impacta a eficiência do edifício, a fatura energética, o conforto térmico e mitiga a pobreza energética de agregados familiares vulneráveis, cumprindo um importante papel social, reforçado por reduzidos custos de manutenção.

O cimento e o betão têm vindo e continuarão a reinventar-se. A missão é complexa, os investimentos avultados, a I

Acresce que a indústria do cimento e do betão promove a mudança de hábitos e culturas, implementa regras e boas práticas de saúde e segurança e investe em formação, capacitação e qualificação.

É evidente o compromisso do cimento e do betão com estética, economia circular, eficiência energética, neutralidade carbónica e sustentabilidade. Os desafios ao nível nacional, da UE e mundiais, têm vindo a ser encarados como oportunidade de transformação e inovação. O setor responde aos desafios sociais, económicos, tecnológicos e ambientais do presente e antecipa a construção ecológica do futuro.

Como qualquer outro material, como nós próprios, o cimento e o betão têm vindo e continuarão a reinventar-se. A missão é complexa, os investimentos avultados, a I&D de tecnologias de ponta acelerará, o que só reforça a nossa visão, compromisso e responsabilidade para com uma sociedade neutra em carbono em 2050.

Secretária-Geral Executiva da ATIC - Associação Técnica da Indústria de Cimento

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