Bebés ‘reborn’. Na fronteira entre o delírio e a terapêutica

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Nos últimos dias, enquanto os adeptos do Sporting ainda festejavam o Bicampeonato de Futebol e os apoiantes dos partidos que melhor se saíram nas eleições legislativas lançavam foguetes da felicidade, uma discussão/análise passou quase despercebida.

Refiro-me ao fenómeno bebé reborn, o qual mais não é do que um boneco hiper-realista a criar discussões nas redes sociais e na comunicação social, com especialistas a serem chamados a falar sobre os laços maternais detetados em alguns atitudes.

Para quem não sabe os bebés reborn são bonecos feitos de silicone, com pele frágil, olhos de vidro e fios de cabelo. Sendo muito idênticos a recém-nascidos.

Criados nos anos 90 do século passado nos Estados Unidos, estes brinquedos ganharam notoriedade recentemente graças às redes sociais. E o sucesso é tanto que no Brasil, por exemplo, a Câmara dos Deputados recebeu, há cerca de uma semana, três projetos de lei com o objetivo de serem criadas políticas públicas relacionadas com os bebés reborn. E se o leitor acha um exagero esta situação, o que diz do facto de terem sido registadas idas de pessoas a hospitais com os bonecos a pedirem para estes serem observados, pois suspeitavam de que os seus brinquedos estavam doentes. Há, até, quem tenha ido a uma unidade de saúde pedir para ser dada uma vacina à sua boneca.

Ideias como esta à parte, a fama que esta descoberta potenciada pelas redes sociais ganhou está a motivar várias análises e teorias sobre a real importância deste brinquedo – julgo que quem o inventou terá pensado nele apenas como uma ajuda para as crianças brincarem, como o muito conhecido Nenuco, por exemplo.

Há quem considere o bebé reborn – que em Portugal se vende em lojas de brinquedos e custa cerca de 100 euros – pode ter um efeito terapêutico, em doentes com demência, pois servirá como estímulo cognitivo. Mas também surgem teses sobre a má influência, ao surgirem como substitutos de bebés reais. Basta ver os vídeos que existem, no TikTok ou no Instagram, de adultos a dar biberões ou a mudar-lhes a fralda.

Por agora tudo isto parece um assunto muito light, mas o certo é que está a ganhar uma dimensão preocupante sobre o que podem ser as atuais relações numa sociedade. E os sinais não deixam de ser desafiantes.

Editor executivo do Diário de Notícias

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