BE: Bloco de Exasperação
O desespero parece ter tomado conta do BE; já não é Bloco de Esquerda, é mesmo Bloco de Exasperação. As sondagens, aliadas às “revoluções” internas do partido, que têm em vista acabar com a liderança desastrosa de Mariana Mortágua, demonstram que o partido é capaz de ter uma representação parlamentar nas próximas eleições a beirar a do Livre. O desespero, a angústia, a ansiedade são tais, que se vêem obrigados a tentar apelar ao sentimentalismo, usando figuras fundadoras do partido para as listas.
O nome também poderia ser BI: Bloco da Incoerência. Quer ser o partido dos jovens, mas aposta em três “históricos” (nome dado às pessoas desgastadas e quase reformadas de um partido) a ver se ainda recolhe votos dos saudosistas. Diz que defende as mulheres e as vítimas de trabalhos precários, mas, como se viu há pouco tempo, parecia haver abuso das suas condições. Declaram defender a democracia, mas aplaudem alguns dos regimes mais vergonhosamente totalitários e criminosos da História. A ansiedade é tal que já nem disfarçam a incoerência de colocar como cabeças de lista por Aveiro, Braga e Leiria três pessoas que, nascidas, criadas e a viver em Lisboa, não têm condições de representar distritos que em nada lhes dizem respeito. Sim, é triste o desespero.
E, finalmente, a angústia do que não tem explicação: declarações como “Candidato-me, porque temos um fascista na Casa Branca”. Seria de herói, se não fosse estulto. Haverá sempre a possibilidade de ser um rasgo de senilidade: o candidato já não percebe bem onde está, perdeu a noção da sua zona geográfica - não admira, já que vai concorrer por um distrito onde nem deve ter passado férias, quanto mais viver - e julga que está nos Estados Unidos. A falta de noção, em alguns candidatos, é evidente. Não reparou que está em Portugal, preocupar-se primeiro com os problemas do distrito que irá representar, caso tenha votos para tal, seria prioritário. Quiçá dever-se-ia privilegiar a eliminação de atitudes eventualmente fascistas que o seu próprio partido parece estar a cometer contra alguns trabalhadores queixosos, do que tentar influenciar a política de outro país.
Presunção e água benta, cada um toma a que quer.
Porque, não só Donald Trump não tem sequer ideia da existência ou dos comentários dos Anacletos da vida portuguesa, como nem o que dizem ou fazem terá impacto nos Estados Unidos. Que isto do efeito borboleta - em especial, certas borboletas bloquistas - não chega para tanto.
Por vezes, as ilusões dos senis ajudam os próprios a viver num mundo particular, em que os totalitarismos (ou a exploração laboral?) em que acreditam são mais democráticos que os dos outros. Ilusão de uns, exasperação dos demais. É a diferença entre política e politiquice. Infelizmente, esta última, também é praticada pelos, não-“Vencidos da Vida”, mas “Derrubados pela falta de Noção”.
Professora auxiliar da Universidade Autónoma de Lisboa e investigadora (do CIDEHUS).
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico