Baralhar e voltar a dar...
Mais cedo do que esperávamos, vamos então a eleições! Desde o início do mês de janeiro que temos assistido a uma vaga não só pandémica, mas de debates televisivos entre os candidatos às eleições legislativas do próximo dia 30 de janeiro.
Apesar de seguirem o estilo "relâmpago", serão cerca de 30 debates televisivos, que deveriam, acima de tudo, servir para que cada candidato expusesse, no mínimo, as ideias-base dos seus programas eleitorais para a próxima legislatura, pois só desta forma o voto será esclarecido. Confesso que não tenho assistido a todos os debates, mas entre os que tenho visto são poucos aqueles que clarificam as ideias que defendem, o que me levou a ter de procurar mais informação, até pelo interesse profissional que esta matéria me suscita.
Apesar de não ter levado a cabo um estudo exaustivo, se é certo que há programas eleitorais com poucas páginas, outros há que ultrapassam as várias centenas, não facilitando o trabalho aos eleitores que não sabem se votam/viram à direita, se votam/viram à esquerda, se votam noutra direita ou noutra esquerda para que se coliguem à direita ou à esquerda. Parece confuso porque é, de facto, confuso, pelo menos para aqueles que vão efetivamente poder exercer o seu direito de voto, o que será importante garantir para que a vontade popular não saia defraudada, até porque se prevê, no próprio dia das eleições, cerca de 400 mil pessoas em confinamento (estimativas do governo).
Mas voltando aos conteúdos dos programas, quer queiramos quer não, se a nova legislatura não for marcada pela pandemia propriamente dita, será certamente marcada pelos seus efeitos, e isso vai exigir uma atenção especial, que já deveria vir refletida nos vários programas eleitorais.
Não desfazendo todas as outras questões, também importantes, as empresas do turismo devem ter um papel central, e mesmo prioritário, em qualquer uma das estratégias a seguir por quem for "o escolhido" para governar.
Caso se invista séria e robustamente no apoio às empresas, "arriscamo-nos" a ter vários dos nossos problemas, se não resolvidos, pelo menos bastante mitigados. Se for desenvolvido um ambiente favorável ao progresso do tecido empresarial do turismo, vai ser gerada riqueza (direta e indiretamente) e, por consequência, vai ser criado mais e melhor emprego (direto e indireto) e, com tudo isto, estaremos a evitar o que pode ser um grave problema económico e social. Não se pode continuar a falar tanto da distribuição de riqueza, sem se criar essa mesma riqueza.
Não há, assim, volta a dar. São as empresas que criam emprego e são as condições que têm ou não têm, que determinam aquilo que podem, ou não podem, pagar, porque o aumento das remunerações dos trabalhadores e do salário médio, como tanto se tem falado, ainda não se opera por decreto. E quanto mais se puder pagar, mais rendimento estaremos a dar e maior poder de compra a gerar.
Mais facilmente afirmo que é do lado do Estado que tem havido uma "política de baixos salários", e não das próprias empresas, porque o que há é uma política de poucos e ineficazes apoios às empresas, de altos custos de contexto, de um quadro laboral que ameaça ser cada vez mais rígido e de baixas qualificações - problemas que devem estar no centro das preocupações.
Julgo assim que serão (expectavelmente) quatro anos de muitas ameaças e outros tantos desafios. No próximo dia 30 de janeiro vamos baralhar e voltar a dar, mas ganhe quem ganhar... o turismo tem de apoiar.
Secretária-geral da AHRESP