Baixar as taxas de juro, já

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Vamos lá ser sérios de uma vez por todas. A inflação que nos assolou ao longo dos últimos anos não tem qualquer relação com aquilo que conhecíamos do passado.

Até agora, todos os períodos de inflação que enfrentámos foram sempre resultado de crescimento económico, que gerou riqueza, que se transformou em excesso de liquidez junto dos consumidores e que, com esse excesso de liquidez, começaram a consumir bens supérfluos e a aumentar a procura em geral, o que gerou a inflação.

Ora, na sequência da crise vivida em 2008, foram tomadas duas medidas que alteraram enormemente a realidade financeira das economias, essencialmente das economias europeias.

Por um lado, a intervenção dos governos na recuperação dos bancos e no apoio às economias mais desfavorecidas criou um excesso de liquidez nas instituições bancárias.

Por outro, a instituição de critérios muito mais apertados na atribuição de crédito e a penalização excessiva do risco de crédito - razão pela qual os bancos têm direito a cobrar juros - resultou numa enorme inibição de distribuir esse excesso de liquidez pelas empresas e consumidores, que ficaram assim sem acesso ao crédito.

Por isso, desde 2008 até 2020, apesar de haver um excesso de liquidez nos mercados, como essa liquidez estava parada nos bancos, que não podiam nem eram estimulados a emprestá-la, nunca deu origem a qualquer pressão inflacionista e tudo ficou na mesma.

Em 2020, face a uma pandemia, que teve um impacto económico brutal sobre todos os canais de produção e de distribuição, sem que tenha havido qualquer mudança sobre a liquidez dos mercados, começou a fazer-se sentir uma pressão inflacionista sobre os preços dos bens, não provocado pelo aumento da procura resultante do excesso de poder de compra, mas pela enorme quebra da oferta que daí decorreu.

Em 2022, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, deu-se uma nova disrupção pela quebra na oferta de cereais e pela subida do custo da energia, que voltou a aumentar essa mesma pressão inflacionista.

E, mais uma vez, por resultado da diminuição da oferta e não pelo crescimento da procura.

Por pouca sorte, juntou-se a estas duas crises um período de seca enorme que acabou por aumentar a pressão sobre os restantes produtos alimentares.

Por tudo isto, a solução para ultrapassar a inflação que estamos a viver deveria ter métodos diferentes dos que foram tradicionalmente utilizados nas crises inflacionistas anteriores.

E nisto, a subida das taxas de juro foi um erro total para remediar a situação. E mais: foi um ato criminoso contra as populações que não foram em nada beneficiadas por esta política e foram francamente prejudicadas pelos seus efeitos.

Por um lado, foi grave a falta de compreensão por quem tem de decidir sobre estas matérias: de que esta inflação acabaria por desaparecer quando as suas causas conjunturais fossem ultrapassadas, nomeadamente o equilíbrio entre oferta e procura.

Contudo, os efeitos da subida das taxas de juro foram ainda mais perversos, com a criação de um aumento muito significativo dos resultados das instituições bancárias, que, por outro lado, não se sentiram obrigadas a remunerar os depósitos dos seus clientes, em resultado do excesso de liquidez gerado pelas medidas anteriores que referi.

E não faz aqui qualquer sentido tentar culpabilizar os bancos por esta situação: ela foi criada pelas medidas políticas tomadas pelo BCE e pela Comissão Europeia, que foram incompetentes para confrontar esta inflação.

Os bancos apenas deixaram a economia funcionar, cobrando o que podiam e não procurando recursos que não necessitavam, porque já os tinham, oferecidos pelos mesmos responsáveis.

Com tudo isto, o consumidor europeu, e muito particularmente o português, acabou por não ter a possibilidade de diminuir o seu consumo, pois apenas comprava o essencial; mas aumentou o seu esforço para conseguir liquidar o seu empréstimo à habitação, pelo que foi enormemente prejudicado por tudo aquilo que lhe foi imposto.

A solução de taxar a banca não resolverá em nada esta questão, pois esse dinheiro será consumido pelo Estado e nunca será devolvido ao consumidor, seu justo merecedor e que, mais uma vez, é quem paga pelos erros e incompetência de quem decide.

É fundamental e urgente baixar as taxas de juro para voltar a dar justiça aos cidadãos europeus e acabar com a manipulação incompetente da economia que tanto mal já criou.

bruno.bobone.dn@gmail.com

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