Assembleia-Geral da ONU: o mundo na encruzilhada

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O único problema dos russos na arena internacional é o "sofrimento do isolamento" em que o Ocidente os aspira a encaixar. Eis uma nova piada diplomática que emergiu no âmbito do segmento de alto nível da 78.ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, que decorreu na semana passada em Nova Iorque.

Esta frase pode soar engraçada, mas na sua essência reflete uma realidade bastante desconfortável para os países ocidentais. Estes não se cansam de procurar novos métodos de punir a Rússia e o povo russo pela condução da política externa soberana e legítima. Até recorrem à obstaculização técnica: o Departamento de Estado americano, em violação do Acordo sobre a Sede das Nações Unidas, de novo não concedeu vistos de entrada a alguns membros da delegação russa, sabotando assim a sua participação no evento.

Chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, a nossa delegação teve uma agenda intensa e desmanteladora para o dito "isolamento" de que tanto se fala nos media dos países do eixo euro-atlântico. Basta mencionar que, além dos discursos na discussão política geral e na reunião especializada do Conselho da Segurança, o ministro russo se encontrou com mais de 30 altos-representantes dos Estados da Europa, Ásia, África e América Latina, funcionários dos organismos da ONU, bem como participou nos formatos multilaterais de grande relevância, por exemplo dos BRICS, da Organização para Cooperação de Xangai, da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, da Conferência sobre Medidas de Interação e Construção de Confiança na Ásia. Por sua vez, a Embaixada da Rússia em Lisboa empenhou-se em dar mais visibilidade, inclusive através das redes sociais, a este programa de visita intensivo e importante para o desenvolvimento ulterior das relações internacionais e a formação duma nova ordem mundial mais justa e equitativa.

Apesar das previsões simplificadoras de alguns meios de comunicação social e ditos "peritos", o espetro de temas das conversações da delegação russa foi bastante amplo. Estiveram presentes na agenda tanto assuntos globais, nomeadamente a reforma da ONU ou a procura de respostas aos desafios e ameaças comuns no contexto da evolução do palco internacional e surgimento de novos centros de poder, como as crises regionais, por exemplo no Médio Oriente, Afeganistão, Síria, Sahel, Nagorno-Karabakh, em torno do programa nuclear iraniana e muito mais.

A abordagem de Moscovo - pragmática, despolitizada e coerente com os princípios do Direito Internacional no que diz respeito ao diálogo entre os Estados - encontra cada vez mais sequazes entre os países da maioria mundial. É inequívoca a sua rejeição quanto à participação nas sanções antirrussas e outras iniciativas do Ocidente que visam "privatizar" a agenda internacional e culpar a Rússia de todos os pecados.

Como destacou o ministro Lavrov no seu discurso perante a Assembleia-Geral da ONU, a 23 de setembro, "a principal tendência da atualidade é o desejo dos países da maioria global de reforçarem a sua soberania e defenderem os seus interesses nacionais, tradições, cultura e modo de vida. Eles não querem mais viver a vida que os outros mandam, querem fazer amizade e comércio entre si e com todo o mundo na condição de tudo isso ser efetuado em pé de igualdade e para benefício mútuo".

Efetivamente, a Rússia está disposta a uma cooperação mutuamente vantajosa com todos os players que partilham esta visão e repudiam uma lógica obsoleta de "líderes e liderados". É neste sentido que iremos continuar a contribuir para o estreitamento da cooperação com os nossos parceiros no formato bilateral e no âmbito dos grupos multilaterais que respeitam os interesses da população do nosso planeta.

"E a Ucrânia?", perguntará o estimado leitor. Pois, claro que também foi abordada, entre outros temas. Aliás, o que pode ser discutido diplomaticamente, quando em Kiev, Washington, Londres, Bruxelas, etc. apelam a que a Rússia deve ser derrotada no campo de batalha? Como salientou o ministro Serguei Lavrov, em Nova Iorque, "nestas condições, se quiserem [resolvê-lo] "no campo de batalha", então no campo de batalha" [o resolveremos].

Mas isto já não é uma piada.

Encarregado de Negócios a.i. da Rússia em Portugal

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