As viagens de finalistas, a pílula do dia seguinte, o álcool e outros riscos

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Estamos na época das viagem de finalistas dos alunos do ensino secundário, e assistimos por estes dias ao regresso de muitos e à partida de outros tantos. Os destinos são quase sempre os mesmos, mais perto ou mais distantes, consoante a capacidade económica dos pais destes alunos.  

Estamos perante um ritual de passagem, e sabemos a importância destes rituais no processo de desenvolvimento dos jovens, agora prestes a entrar na idade adulta. É um ciclo que se encerra e outro que se inicia. São memórias que se criam e novos desafios que surgem pela frente.  

As viagens de finalistas são, quase sem exceção, antecipadas com elevada expetativa, pensando-se nas festas, nos músicos de eleição e na total ausência de supervisão parental. Tudo é preparado ao detalhe e é ver os jovens voar, rumo a algo que, ano após ano, é descrito como uma aventura única e inesquecível.  

Falamos de uma experiência ímpar, é verdade, mas que também encerra em si inúmeros riscos. 

Acima de tudo, o risco dos excessos, decorrentes de uma sensação de liberdade e de ausência de controlo. Aqui, podemos tudo. Podemos levar colchões de uns quartos para os outros e dormir onde bem entendermos. Podemos usar as famosas pulseiras do “tudo incluído” e beber até cair para o lado. Podemos deixar fluir as emoções e o desejo sexual e dar asas a um conjunto de práticas que não são devidamente ponderadas.  

Afinal de contas, o que acontece na viagem de finalistas, fica na viagem de finalistas.  

O problema é que nem sempre o que lá acontece, lá permanece. O consumo excessivo de álcool conduz, muitas vezes, a desacatos, alterações da consciência e condições médicas de maior gravidade. A sexualidade é vivida, frequentemente, sem qualquer proteção - e é no dia seguinte que se tenta prevenir uma gravidez indesejada. Em relação a possíveis infeções sexualmente transmissíveis… bem, é esperar para ver o que acontece.  

Estas vivências festivas regadas a euforia podem ainda ser o catalisador de práticas mais abusivas, e a submissão química pode aqui encontrar uma porta de entrada verdadeiramente escancarada.  

Perante tudo isto, importa acima de tudo prevenir.  

Prevenir significa conversar com os jovens sobre todas estas possibilidades, não numa perspetiva alarmista e castradora, mas sim procurando informar e consciencializar. Não com ameaças de consequências negativas mas, sobretudo, colocando a tónica na responsabilidade que, como jovens (quase) adultos, devem assumir nas várias esferas da sua vida. 

Que estas viagens de finalistas possam ser o fim de algo e o começo de outro algo, mas sempre em segurança e com a devida proteção.  

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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