As origens da derrota

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Os resultados eleitorais do passado dia 18 deixaram alguns setores políticos (nomeadamente à esquerda) muito surpreendidos. De facto, não foi apenas o País ter consolidado a viragem à direita, mas sobretudo a dimensão dessa viragem.

A explicação para esta expressiva viragem encontra-se tanto nas opções recentes dos partidos da esquerda, como também num caminho, mais antigo, que a esquerda tem trilhado em Portugal.

O fim do cavaquismo (1995) trouxe a esquerda ao governo, complementando a que já existia na Presidência da República. E em 1997 tornou-se evidente o que pretendia esta esquerda: Em plenas comemorações do Dia de Portugal, Jorge Sampaio permitiu que Alçada Batista viesse propor que o hino nacional substituísse “Contra os Canhões Marchar, Marchar”. Dizia ser muito belicista e nada adequado aos tempos modernos de um povo de paz que queria corrigir a imagem colonialista do passado.

Na altura foi rapidamente descartado. Porém, em 2023 e pela voz de Dino D’Santiago, o tema voltou à discussão.

Este wokismo primário é um reflexo de uma dupla ignorância profunda.

A primeira porque esta música já foi alvo de uma alteração pela esquerda republicana que a elevou a Hino Nacional: A versão original era de facto belicista e cantava “Contra os Bretões Marchar, Marchar”, fruto da revolta nacional (e republicana) contra a cedência da Coroa Portuguesa ao ultimato britânico que pretendia o fim do “Mapa Cor de Rosa” em África (sim, as referências fundadoras republicanas da esquerda eram colonialistas e nem por isso foram repudiadas).

A segunda ignorância grave é que a versão atual não tem motivos belicistas, mas sim evocativos da determinação histórica de um povo em superar os mais intransponíveis obstáculos. É um elogio e uma motivação para o dia-a-dia de cada um de nós.

Este episódio simbólico é, na realidade, um reflexo da cartilha de alterações sociais e culturais profundas que nos últimos 30 anos a esquerda tem vindo a tentar impor à sociedade portuguesa, hoje classificadas como wokismo, e que tem gerado ressentimento e frustração por esse país fora.

E, de facto, se bem pensarmos, o primeiro alerta surgiu em 2007. No decurso do programa da RTP, Os Grandes Portugueses, Salazar foi o grande vencedor, com 41% dos votos.

Significa isto que os Portugueses querem ditaduras? Claro que não. O “Tuga” quer falar abertamente sem correr o risco de delito de opinião, mas também quer previsibilidade, segurança, oportunidade de trabalho e, sobretudo, quer que parem de oprimir o seu orgulho e memória históricas.

A bofetada que a esquerda sentiu dos eleitores no passado dia 18 não pretende ser o seu fim, mas sim um alerta: Parem de querer impor uma transformação social!

É que se Marx, Proudhon, Gramsci, Fanon dão ótimas reflexões intelectuais, não refletem as reais ansiedades e frustrações dos portugueses.

Se nisso persistirem e não compreenderem as origens da derrota, vão continuar desligados dos Portugueses e, no futuro, esta bofetada pode tornar-se um KO.

Presidente da Concelhia do PSD em Lisboa

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