As eleições americanas já não estão perdidas, mas ainda não estão ganhas
Quem acompanhe as eleições para a Presidência dos Estados Unidos poderá ter ouvido falar no Projeto 2025, uma agenda de 900 páginas para uma futura Presidência de Donald Trump, proposta por um conjunto de mais de 100 organizações conservadoras.
E embora Trump tenha negado conhecer o conteúdo do Projeto 2025, as pessoas envolvidas são, ou foram, seus conselheiros próximos, as ideias expressas correspondem em grande medida à plataforma do Partido Republicano atual e ao pensamento do ex-presidente.
Para implementar esta agenda, o Projeto 2025 sugere diminuir drasticamente duas das características fundadoras do sistema político norte-americano: por um lado, limitar profundamente os mecanismos de controlo democrático dos poderes do presidente, obrigando toda a Administração Pública - incluindo as agências e departamentos que hoje são propositadamente independentes do poder executivo - a implementarem as políticas e instruções da Casa Branca; e, por outro lado, minar substancialmente a separação entre o Estado e a Igreja.
Se as políticas internas defendidas pelos apoiantes de Donald Trump e, em grande parte refletidas no programa eleitoral do Partido Republicano, chocam com a tradição democrática que tem norteado a organização dos Estados Unidos e de outras democracias avançadas, as posições sobre política externa que o próprio candidato tem assumido - e que afetariam de maneira muito mais direta os interesses internacionais do nosso país - são igualmente preocupantes.
Os constantes ataques às organizações internacionais de que fazemos parte, os elogios a líderes políticos que presidem a ditaduras violentas e o desprezo por todos os mecanismos de limitação do poder dos Estados Unidos no mundo, poderão transformar a Comunidade Internacional numa anarquia em que países como Portugal seriam, na melhor das hipóteses, apenas ignorados.
Até à desistência de Joe Biden das eleições, e em particular, após o debate desastroso onde vimos, ao vivo e a cores, um presidente dos Estados Unidos frágil, aflito e confuso, as sondagens eram quase unânimes em prever que Donald Trump regressaria à Casa Branca em janeiro.
Após a substituição de Biden por Kamala Harris na candidatura democrata, as expectativas mudaram e começam a aparecer sinais de que as candidaturas estão empatadas ou que há até uma pequena vantagem para Harris.
Quem tiver uma visão democrática, moderada, aberta ao mundo e reconheça que a escolha de quem irá presidir aos destinos dos Estados Unidos é matéria que interessa a Portugal e ao Mundo, estaria deprimido antes e poderá estar mais otimista agora. Mas nada está decidido e será sensato esperarmos o melhor mas estarmos preparados para o pior.