Armadilhas pós-divórcio

Separar-se ou divorciar-se de alguém é muito mais do que mudar de casa ou assinar um papel. É um processo complexo que envolve, acima de tudo, questões psicológicas e sociais, a par das legais e económicas. Durante este processo, cujo ajustamento pode demorar meses ou mesmo anos, os ex-parceiros sentem-se habitualmente mais frágeis e vulneráveis, e podem cair em diversas armadilhas.

Vejamos algumas armadilhas muito frequentes:
1. Isolamento social: afastar-se das pessoas em seu redor e deixar de realizar atividades que, até então, geravam prazer e potenciavam a interação social. Esta armadilha surge muitas vezes associada a sintomas mais depressivos: perda de energia, desmotivação, tristeza intensa ou mesmo falta de esperança no futuro.

2. Tentar manter o apego ao ex-cônjuge: tentar, por todos os meios, manter uma relação de proximidade afetiva com o/a ex. Esta armadilha pode envolver alguma humilhação e subjugação, associada a sentimentos de desvalor ou inferioridade, medo de ficar só ou dependência emocional.

"(Em caso de divórcio ou separação) é fundamental ativar a sua rede de suporte social, interagir em contextos sociais e dedicar tempo a atividades que lhe gerem prazer e sentimentos de mestria, ao mesmo tempo que cuida do seu sono e alimentação."

3. Atividades compulsivas: o envolvimento compulsivo em atividades, normalmente profissionais, é uma armadilha muito frequente. É como se tentasse ocupar todo o seu tempo, de modo a não pensar. Focar-se apenas em estímulos externos, como forma de não olhar para dentro de si mesmo.

4. Promiscuidade: numa tentativa quase desesperada de ocupar o lugar sentido agora como vazio, inicia uma busca indiscriminada de relacionamentos, habitualmente superficiais e sem grande envolvimento afetivo. Relacionamentos que rapidamente se transformem numa sucessão de encontros casuais, gerando muitas vezes uma enorme frustração e sensação de abandono.

5. Envolvimento precipitado em novas relações: são as chamadas "relações-bengala" ou "relações penso-rápido". Procura-se alguém para ocupar o lugar da outra pessoa e rapidamente se assume como uma relação estável. Apresenta-se de imediato este novo elemento aos filhos e a outros familiares e, não raras vezes, inicia-se desde logo a coabitação. Algumas relações desta natureza perduram no tempo com gratificação, mas a maioria não vinga.

6. Viver apenas para os outros: altruísmo e empatia são características muito valiosas, mas que não devem, de modo algum, substituir o autocuidado. A separação/divórcio é uma situação fortemente geradora de stresse, pelo que deve procurar, acima de tudo, cuidar de si - para que, depois, consiga cuidar dos outros.

Estas são algumas armadilhas em que se pode cair, após uma separação ou divórcio. Para as evitar, é muito importante que se permita a si mesmo sentir e expressar aquilo que sente. É fundamental ativar a sua rede de suporte social, interagir em contextos sociais e dedicar tempo a atividades que lhe gerem prazer e sentimentos de mestria, ao mesmo tempo que cuida do seu sono e alimentação. E, se for necessário, procure ajuda especializada.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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