Aprender com os melhores
Num editorial no jornal Público de 26 de dezembro passado, em torno da questão da segurança [interna], sustenta-se a tese de que Portugal deve “aprender com o país mais seguro do mundo”. Apesar de, em termos globais, sermos um país seguro, temos vindo a perder posições nos rankings internacionais e devemos olhar para quem está melhor classificado para recolher ensinamentos das suas experiências.
É uma análise correta. Não porque análises meramente endógenas não sejam úteis. Mas porque, em muitas áreas, a análise da experiência ou da evolução noutros países revela-se frutífera para melhorar a nossa experiência e/ou recolher ideias novas.
Mas por que não alargar o âmbito da questão? Começando pelo nível de vida. A forma mais simples de comparar o nível de vida nos países é através da comparação dos respetivos PIB per capita.
Em termos de PIB nominal per capita, de acordo com uma síntese [de dados das NU, BM e FMI] feita pela World Population Review, Portugal encontra-se em 55.º lugar no ranking mundial com c. 24.000€. Se se calcular o PIB per capita em termos de paridade de poder de compra (PPP) Portugal encontra-se em 43.º lugar no ranking mundial (entre Omã e a Guiana), com c. 40.000€, segundo o Worldometer. Se se adotar outros critérios, como o Produto Nacional Bruto (PNB) ou o Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita, Portugal continua longe dos lugares cimeiros.
Existem alguns estudos sobre as causas do fraco crescimento da economia portuguesa - “baixa produtividade”, baixa qualificação da maioria dos gestores de empresas, sistema judicial pouco eficiente, insuficiência de capital nacional, pouco investimento, alta taxação.
Focando a evolução comparativa da economia portuguesa no contexto europeu - e há bem mais mundo para lá da Europa e muito para analisar e aprender nesse vasto universo, nomeadamente com os países que mais têm crescido ou melhorado a qualidade de vida dos seus cidadãos - não é difícil perceber a estagnação comparativa da economia portuguesa, que vem descendo nos rankings; em termos de PIB per capita PPP, estamos já atrás de vários países do Leste europeu, como a Lituânia, a Estónia, a Polónia, a Hungria, a Chéquia e a Roménia.
É importante que o método comparativo seja adotado de forma significativa na análise da evolução da economia nacional, pelos centros de estudos de entidades públicas, académicas e empresariais. Em especial quando temos uma classe política com cada vez menos mundo, cada vez mais profissionalizada na política em si, priorizando as contagens de espingardas e a gestão de redes pessoais ou de grupo que lhes garantem a sobrevivência, papagueando a informação (cada vez mais polarizada e genericamente empacotada) criada nas redes sociais e focada na guerrilha politiqueira da espuma dos dias mediática.
Consultor financeiro e business developer