Alcochete: aeroporto e habitação

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Lisboa é hoje um caso de estudo em muitas e variadas dimensões. A cidade tem atrativos estéticos, monumentais e históricos de classe mundial, potenciadores de um turismo qualificado. Tem revelado uma grande capacidade de atração de eventos internacionais. E tem sido destino de investimento empresarial de perfil tecnológico, atraindo assim também talento profissional e estudantil. Acontece que este sucesso poderá transformar-se num veneno fatal se não forem resolvidos os dois maiores problemas da capital: o aeroporto e a habitação. Que acredito podem ter uma solução conjunta.

Comecemos pela Portela. Com o Verão, chegam os turistas aos magotes e com eles as filas, intermináveis e claustrofóbicas, para mostrar o passaporte, recolher as malas e apanhar transporte para o destino final. No Natal costuma ser o mesmo. Uma experiência de terceiro mundo com que recebemos turistas, empresários, profissionais e estudantes. Poder-se-ia dizer que é assim também noutros países, mas a questão aqui tem uma nuance que faz toda a diferença. Como a Joana Petiz lembra esta semana no seu editorial do Dinheiro Vivo, o peso do turismo na economia portuguesa é tão importante que deveria ser suficiente para puxar este investimento para primeiríssima prioridade. Decorreram cinquenta anos de indecisões e a situação vai de má a péssima.

Agora a habitação. Soubemos recentemente que Lisboa é uma das cidades mais caras do mundo para se viver. Conhecendo bem a cidade e os seus custos, direi que ainda se consegue comer a preço aceitável, que os supermercados não vendem mais caro do que no resto do país e que o transporte urbano é agora mais barato do que nunca. Então, por que é cara a cidade? Habitação é a resposta. Uma parte esmagadora do rendimento vai para pagar a renda ou a prestação da casa e, resultado de erros históricos nas políticas, da chegada do alojamento local e da procura por estrangeiros mais endinheirados, a fatura é insustentável para uma família da classe média. Assim, será impossível reter residentes e talento, porque as pessoas não podem viver debaixo da ponte. A solução é apenas uma: aumentar a oferta. Mas não marginalmente. Terá de ser um projeto de grande escala, que se pague a si próprio.

Penso que já todos percebemos que, no penoso caminho de eliminação de possibilidades e localizações para o aeroporto, onde estiveram mais em jogo interesses setoriais, se desaguou sempre numa ideia: as soluções provisórias, como Montijo e Alverca complementares à Portela, são de eficácia duvidosa e consumirão importantes recursos financeiros, sem resolver definitivamente o problema. Este quadro configura uma oportunidade única para uma solução estrutural, que penso ter todas as condições para resolver, de uma vez e num investimento conjunto, os dois maiores problemas da capital, o aeroporto e a habitação. Refiro-me à cidade aeroportuária de Alcochete.

Um plano, que pode ser faseado, para a construção do necessário aeroporto e de uma cidade planeada com abundante oferta de habitação acessível, acrescida de uma ligação rápida entre Alcochete e Lisboa, tem todas as condições para ser viável e desenvolvida maioritariamente por financiamento privado. Que grande demonstração de alta política nos dariam António Costa, Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos e Carlos Moedas se se sentassem para discutir esta possibilidade e consensualizar uma solução.

Professor catedrático

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