Ainda é possível fazer a diferença
Há 13 anos, por altura da gripe das aves, a empresa multinacional onde trabalhei trouxe a Portugal as melhores experiências do mundo no que ao combate de pandemias diz respeito.
Essas experiências foram partilhadas, com o presidente da Cruz Vermelha e com o director-geral da Saúde.
Na altura, chamei a atenção para a necessidade de criação de um gabinete de crise e alertámos para o facto de que a prevenção era o único meio eficaz e eficiente de combate a uma pandemia.
Volvidos 13 anos, e dez meses de pandemia, os números de mortes e de infectados não podem ser justificados pelo facto de que ninguém estava preparado.
Apesar de termos chegado aqui, ainda é possível fazer a diferença? A resposta é sim.
Comecemos pelos princípios fundamentais de combate a uma pandemia. A estratégia do combate a uma pandemia assenta em dois pilares fundamentais: a prevenção e o tratamento.
A prevenção:
Os resultados são imediatos, eficazes e eficientes. Os recursos são ilimitados. A capacidade de resposta é imediata e mantém-se pelo tempo que for necessário.
O tratamento:
Os resultados dependem da criação, da distribuição da vacina e da capacidade do Serviço Nacional de Saúde.
Os recursos são limitados. A capacidade de resposta é lenta e pode deixar de existir em situações de gestão de catástrofe semelhantes à que estamos a viver.
Hoje, já todos sabemos que o uso da máscara é, senão o único meio, pelo menos o mais eficaz no combate a uma pandemia. Mas para que o uso da máscara funcione temos de comunicar, ensinar, liderar, de forma clara e objectiva.
Vejamos alguns exemplos do que nunca foi dito nem explicado até hoje e, já lá vão dez meses.
O uso das máscaras tem de ser obrigatório desde o primeiro dia da pandemia. E quanto aos diferentes tipos de máscaras a usar, aqui fica a regra:
Cirúrgicas: para toda a população;
FFP2: para todos os profissionais que lidam com pessoas que temporariamente não usam máscaras cirúrgicas, nomeadamente: empregados da restauração, professores, dentistas e profissionais de saúde.
Os empregados da restauração correm riscos sempre que os clientes tiram as suas máscaras. Parece óbvio, então porque é que nunca foi comunicado?
Mas se estas máscaras são obrigatórias, outras devem ser proibidas. E não se diga que no início da pandemia não havia stock, daí se ter recorrido à "invenção" das "máscaras sociais".
Diz a experiência que, no início de uma pandemia, todos os meios de produção de equipamentos de protecção são requisitados e passam a trabalhar em laboração contínua e, aqui inclui-se também o Exército.
Aliás, a experiência da Câmara de Cascais, que investiu cerca de 700 mil euros em equipamento de produção de máscaras, prova que quando se quer pode-se sempre fazer a diferença.
E daqui passamos para uma das ciências imprescindível no combate à pandemia.
A Logística:
Com base nesta ciência, aqui ficam as regras que devem ser implementadas urgentemente se ainda se quiser reduzir o contágio.
Máscaras - distribuição e venda:
1 - as farmácias são responsáveis em exclusividade pela distribuição e pela venda de máscaras, garantindo que as mesmas cumprem as normas obrigatórias;
2 - fica proibida, com efeitos imediatos, a distribuição e/ou venda por qualquer outra entidade de qualquer tipo de máscaras;
3 - o material em stock, existente nessas entidades, deverá ser destruído no prazo máximo de 72 horas e o respectivo custo descontado no IRS ou IRC desde que se faça prova da compra legal (factura e produto certificado)
Máscaras - apoio financeiro:
4 - serão distribuídas (nas farmácias) máscaras gratuitas a toda a população com fracos recursos económicos;
5 - os critérios a usar são os seguintes: cirúrgicas, duas máscaras por dia; FFP2 , uma máscara por dia;
6 - o custo estimado, por alto, para três meses e para dois milhões e meio de pessoas será de 52 800 000 euros.
Álcool-gel:
7 - aplicam-se as mesmas regras definidas para as máscaras com as necessárias adaptações.
8 - obrigatoriedade de colocação de álcool-gel na entrada de todos os transportes públicos.
Fica para outra oportunidade falar sobre a importância transversal da comunicação e da criação e gestão de um "Sistema Integrado de Gestão de Informação".
Em conclusão, cabe ao gabinete de crise liderar em exclusividade o combate à pandemia. É um trabalho que exige exclusividade e que tem de ser executado com base na experiência e nas melhores práticas a nível nacional ou internacional.
É proibido improvisar ou, pior ainda, não reconhecer que quando não se tem conhecimento e ou experiência, tem de se pedir ajuda, disso depende salvar ou deixar morrer as pessoas.
Só a ignorância pode dar a falsa sensação de que está tudo bem, porque nada mais se pode fazer.
Especialista em gestão de risco.
Escreve de acordo com a antiga ortografia