Afinal, que políticos querem os portugueses?

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No atual contexto político nacional, a discussão acerca do conflito de interesses dos políticos tornou-se questão central com influência na condução dos destinos do país. A controvérsia reside na possível erradicação de potenciais interessados no exercício de altos cargos públicos, de cidadãos com carreiras profissionais anteriores consolidadas e de sucesso nas suas áreas de prática que, detentores de experiência no setor privado a acumulam com experiência política, essenciais para uma administração da coisa pública moderna e eficiente.

O dilema é evidenciado na trajetória do atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, e do anterior ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, cujos perfis misturam a vivência empresarial ativa e a experiência política consolidada.

Ora, poder escolher políticos que conjuguem a expertise adquirida no exercício de atividades económicas, capazes de integrar e aliar as melhores práticas do setor privado à gestão pública, não deve ser desprezado pelos eleitores.

A análise deste tema, que exige a consideração dos preceitos constitucionais e dos princípios que norteiam a moralidade, a ética, não pode deixar de se entrelaçar com uma necessidade eminentemente realista: o político com experiência profissional fora da coisa pública, até assumir o cargo de ministro ou primeiro-ministro, não viveu em Júpiter. Desenvolveu atividade profissional e económica, angariou clientes e negócios e faturou o que produziu ou os serviços que prestou.

Escolhas políticas recentes por esse mundo fora (p. ex. Alemanha, EUA, Reino Unido, etc.) reforçam a necessidade de se aliar o mérito individual dos candidatos, levando em conta não apenas o histórico político, mas também a experiência acumulada em ambiente profissional e empresarial.

A adoção de uma malha excessivamente rígida do conceito de conflito de interesses, restringe o naipe de escolha dos políticos entre profissionais com currículos fora da atividade política, privando, provavelmente, o eleitorado, das melhores escolhas para os desafios difíceis da vivência na sociedade contemporânea.

As atuais dúvidas sobre o que aos políticos se deve exigir, deve ser objeto de uma reflexão profunda na sociedade portuguesa sobre os critérios de seleção do perfil dos líderes que conduzem a república: optar por políticos profissionais, cuja carreira se consolidou exclusivamente no âmbito público ou, em alternativa, reconhecer o valor de perfis de quem possui vivência comprovada no mercado e capacidade de transformar desafios em oportunidades.

Ao privilegiar a experiência profissional anterior e competências adquiridas fora da coisa pública, os eleitores poderão escolher líderes com capacidade para perceber novos desafios e implementar políticas inovadoras, capazes de responder às exigências de um mundo globalizado, em constante transformação e instabilidade.

A decisão sobre o perfil ideal deve pautar-se por uma análise dos padrões de ética exigíveis, mas a mesma não deve deixar de ser pragmática e racional, sem histerias moralistas. A polémica em curso constitui uma oportunidade para reavaliar e repensar os critérios de seleção dos líderes políticos que, ainda, sem perder o rigor ético que é exigido, se deve, pois, adaptar às exigências naturais de quem hoje gere num mundo complexo e instável, os destinos de um país.

Advogado e Sócio fundador da ATMJ - Sociedade de Advogados

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