Afinal, o que é um czar?
Donald Trump anunciou durante a campanha eleitoral pretender que o multimilionário Elon Musk venha a ser, na futura Administração, o “czar da eficiência governativa”, o que suponho ser um exercício de despedir a eito: um défice público que ronda os 6,5% do PIB do país e uma dívida pública acima de 123% devem ajudar a validar a ideia de “emagrecer o Estado”.
Entretanto, num artigo no Expresso escrito por Rodrigo Tavares, fico a saber que o dono da Tesla, da Starlink e da SpaceX, o homem mais rico do planeta, deu uma palestra, sete dias antes das eleições, para explicar como acha que vai ser o mundo daqui a poucos anos.
Entre outras previsões está lá esta: em 2026 a Inteligência Artificial (IA) será capaz de fazer qualquer coisa que o ser humano saiba fazer e, daqui a cinco anos, superará a inteligência coletiva da humanidade. Musk especificou, porém, uma condicionante: a IA procurará a “verdade em grande escala” e não a verdade “politicamente correta”.
Ontem leio que, já eleito, Donald Trump anunciou querer nomear um sujeito chamado Thomas Homan como “czar das fronteiras” para deportar imigrantes ilegais e, talvez, responsabilizar-se pela Segurança Interna. Diga-se que este Homan, um ultraconservador, lançou há pouco tempo um estudo de 900 páginas onde propõe trocar cerca de 50 mil funcionários públicos por “pessoas de confiança”.
Tudo isto soa mal, a começar logo no nome destes cargos: “czar”...
Atendendo à capacidade da IA, segundo Elon Musk, em escrever “a verdade em grande escala”, resolvi perguntar ao ChatGPT o que raio é, afinal, um czar?...
Recebi esta resposta:
“O termo ‘czar’ (ou ‘tsar’ ou ‘tzar’) é um título histórico, de origem eslava, que se refere ao monarca ou imperador na Rússia, usado também em alguns outros países eslavos e do leste europeu.
O governo dos czares é geralmente associado a um regime autocrático, em que o czar exercia controlo absoluto sobre o Estado e seus súbditos.
Na Rússia, o título de czar foi oficialmente adotado em 1547 pelo primeiro czar russo, Ivan IV, conhecido como Ivan, o Terrível. A Dinastia Romanov, a mais famosa entre as dinastias de czares, governou a Rússia de 1613 até à Revolução Russa de 1917.
Atualmente, o termo ‘czar’ é usado de maneira figurada noutros contextos para se referir a autoridades ou líderes que têm controlo substancial sobre uma área ou função específica dentro de uma organização ou Governo.”
Resumindo: se percebo o que a IA, esterilizada de ideologia inconveniente, me quer dizer, um “czar” hoje em dia é um ditadorzito de repartição com a mania de que é imperador da Rússia.
Bem... respeitando a vontade popular, nada direi sobre o facto de os norte-americanos terem votado a favor de terem czares a mandar neles. Porém, como estas modas da linguagem dos Estados Unidos são rápidas a cá chegar, antecipo já que André Ventura, Rui Rocha, Nuno Melo ou Luís Montenegro se vão lembrar um dia destes de propor um “czar” para a Imigração, ou um “czar” para a Saúde, ou um “czar” para a Habitação e por aí fora...
Por mim, adianto já, serei contra esta patetice: advogarei, até, uma revolução bolchevique para acabar com o czarismo do século XXI.