Afinal, o centro político moderado está vivo e recomenda-se
A semana que passou foi marcada pelas eleições no Reino Unido e na França. No primeiro caso, a vitória muito significativa de uma versão moderada e centrista do Partido Trabalhista, liderado por um advogado especializado em Direito Humanos, que prometeu governar de acordo com a realidade e não ser guiado pela ideologia, permite-nos antecipar o desanuviar de algumas tensões dentro da sociedade britânica, o regresso a um relacionamento mais racional entre a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda do Norte, e a uma reaproximação entre Londres e Bruxelas.
No segundo caso, e contra todas as sondagens e previsões, a extrema-direita não só não ganhou as eleições, como acabou em terceiro lugar, sendo ultrapassada pela coligação de esquerda e pelo partido centrista do Presidente Macron. Não sabemos o que acontecerá agora, nomeadamente que entendimentos e acordos serão necessários para formar um novo Governo, mas para quem defende a moderação e o diálogo, a noite de domingo correu muito melhor do que se temia.
Também as eleições para o Parlamento Europeu resultaram na manutenção do controlo do hemiciclo de Estrasburgo pelos partidos que representam o centro político, nomeadamente o Partido Popular Europeu (onde se sentam o PSD e o CDS), o Partido Socialista Europeu (onde está o PS) e os Liberais (onde encontramos a Iniciativa Liberal).
Como disse o Presidente francês - a quem se agradece o título desta crónica - o centro político (na Europa) está vivo e recomenda-se. E ainda bem que assim é. Quem olhar com frieza para os desafios que enfrentamos coletivamente verá que não vivemos em tempos para radicalismos ou para ignorar o que a ciência nos diz.
Desafios como a guerra, o crescimento económico justo, os efeitos das alterações climáticas - que a ciência identificou há quase 40 anos, mas que há quem continue a negar - ou as consequências que a revolução da Inteligência Artificial e a digitalização terá na Educação, nos empregos, na organização do Estado, nas empresas, nas famílias ou na sustentabilidade da Segurança Social, precisam de pessoas sérias que olhem para os factos e que sejam capazes de trabalhar de forma coordenada, juntando saberes, ciências e experiências diferentes, discutindo alternativas e soluções, sem excluir ideias ou propostas porque não se encaixam numa narrativa ideológica ou não gostam de quem as apresenta.
De facto, não estamos em tempos para escolher soluções mais ou menos simplistas e infantis que não dão respostas às aflições sérias e preocupantes que temos pela frente.
A semana correu bem na Europa… mas há eleições nos Estados Unidos em novembro…