Acordar ao som das sirenes em Telavive
As sirenes soaram às quatro da manhã. Do meu quarto no sétimo andar do Hotel Renaissance, junto à praia de Telavive, parecem distantes no meio do vento forte que soprou toda a noite. Não sei se foi a sirene ou a voz de um homem a falar dos altifalantes do corredor do hotel que me acordou. Não falo hebraico, não percebo o que diz. Questiono-me se é mesmo o alarme ou se estará a dizer para continuarmos nos quartos. Foi-nos distribuído um papel no check-in que diz que, em caso de alarme, há uma mensagem e o procedimento é ir para a sala segura que existe em cada piso, junto ao elevador. Mas porque é que a mensagem pré-gravada não soa também em inglês?
Levanto-me confusa. Às duas da manhã já tinha acordado a achar que estava a sentir um terramoto, mas afinal era só um sonho. Desta vez as sirenes não são. Ponho os óculos, os chinelos do hotel, procuro o roupão de banho para pôr por cima do pijama e pego no telemóvel e na chave do quarto preparada para sair para o abrigo. Espreito pelo óculo da porta, mas não vejo movimento de mais ninguém nos quartos ao lado, onde sei que estão outros jornalistas como eu. Hesito. O alarme na rua já se calou. Terá soado só um minuto ou foi mais? Perco a noção do tempo. Se fosse uma ameaça séria, não soaria mais tempo? Vou ao canal de Telegram das Forças de Defesa de Israel e leio que as sirenes soaram em diferentes áreas do país, depois de um projétil ter sido lançado do Iémen, a mais de dois mil quilómetros de distância. Mas sei que as sirenes soam também porque o sistema de defesa israelita pode lançar um interceptor e os destroços podem ser igualmente um perigo.
Ainda estou a pensar se vou ou não para a sala segura e outra mensagem ouve-se nos altifalantes. Parece mais curta que a primeira. Será que está a insistir para irmos para o abrigo ou a dizer que já está tudo bem? A indicação prévia que foi dada é ficar dez minutos na sala segura antes de regressar ao quarto. Tal como nos foi dito, quando viajamos de autocarro por Israel, que se houver alarme devemos sair, procurar um abrigo ou deitarmo-nos no chão com as mãos na cabeça por esse mesmo tempo.
No kibbutz de Kfar Aza, que fica logo ao lado da Faixa de Gaza e foi um dos alvos dos terroristas do Hamas no ataque do 7 de outubro de 2023, quem lá vive tem cinco a dez segundos para se proteger quando soam as sirenes a alertar que um engenho foi lançado do enclave palestiniano. As crianças aprendem a levantar os braços, para facilitar quem as levará para o abrigo. A nossa visita foi na véspera de Israel retomar os bombardeamentos. A situação era calma, havia outros grupos de visitantes e não só o dos jornalistas. Olhámos para os edifícios ao longe, depois dos campos de cultivo. “Ali já é a Faixa de Gaza”, explicaram-nos.
Duas noites depois, as sirenes soaram em Telavive. A ameaça não vem do Hamas, mas dos Houthis do Iémen, que retomaram os ataques contra Israel e os navios norte-americanos depois de também terem sido atacados pelos EUA. Continuo à porta do quarto, sem saber o que fazer. No grupo de WhatsApp dos jornalistas estrangeiros que estão na mesma viagem do que eu, um dos organizadores partilha a informação das IDF. Vou aos jornais israelitas no telemóvel, só a mensagem das IDF. Vou ao X, entre as indicações de que as sirenes soaram em todo o sul do país, algumas mensagem de júbilo por Telavive estar a ser bombardeada. Mas reina o silêncio.
Outra mensagem no grupo, entretanto passaram dez minutos e já está tudo bem, podemos voltar a dormir. As IDF informam que o projétil foi intercetado antes de entrar em Israel. Posso dormir, mas é a primeira vez que estou em Israel e não tenho a experiência dos israelitas. O sono escapa-me esta madrugada, mas não o arrependimento. Da próxima vez, não penso tanto e vou para a zona segura.
A jornalista viajou a convite da EIPA (Associação de Imprensa Europa Israel)