Aceitam-se apostas sobre quem vai tentar enterrar o trumpismo em 2028

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O sucesso do trumpismo veio pôr em xeque algumas certezas do Partido Democrata: e a maior delas é que não só detinha uma maioria eleitoral no país, como que a evolução demográfica viria ainda a reforçar essa maioria. Apesar do percalço que foi a vitória de Donald Trump em 2016, essa certeza manteve-se até 5 de novembro deste ano. Afinal, sete das oito Presidenciais desde 1992 tinham dado uma maioria de votos populares ao candidato democrata, e as minorias étnicas, em franco crescimento, continuavam, a cada eleição, solidamente afetas ao partido que tem um burro como símbolo.

O triunfo de Joe Biden em 2020, que tirou Trump da Casa Branca, servia de reforço máximo a essa certeza, pois num contexto de grande afluência às urnas, o democrata venceu folgadamente no voto popular, com um recorde de 81 milhões, e no Colégio Eleitoral também, ganhando não só o Nordeste e a Costa do Pacífico, como os Grandes Lagos e até a Geórgia, um Estado sulista.

O problema dos democratas foi a sua fórmula contra o trumpismo, que passou a ser sinónimo de Partido Republicano, se ter limitado a recuperar Biden, um político veterano, bem-visto tanto pelas minorias étnicas como pelas camadas operárias, antigo vice-presidente de Barack Obama que, contra o que é tradição, em 2016 não tinha procurado chegar à Casa Branca, preferindo apoiar Hillary Clinton.

Quando já bem entrado 2024 a condição de octogenário do presidente se tornou aos olhos de todos prejudicial à reeleição, aos democratas restou apostar na sua vice, Kamala Harris, que uniu o partido, mas não conseguiu mobilizar o eleitorado que quatro anos antes esteve com Biden. Enquanto Trump aumentou os votos em três milhões, Harris obteve menos quatro milhões do que Biden. E o candidato presidencial do partido do elefante conseguiu boas prestações especialmente entre os  hispânicos, mas também entre os afro-americanos e os americanos de origem asiática, isto apesar de a rival ser filha de pai jamaicano e de mãe indiana.

Finda a tal certeza, que pode fazer o Partido Democrata para já em 2026, nas Eleições Intercalares, recuperar o controlo do Congresso, e em 2028, recuperar a Casa Branca, pois Trump estará de saída dado o limite constitucional de dois mandatos? Certamente terá de ter propostas novas para a economia e a imigração, dois temas que foram fundamentais nas eleições deste ano, tal como repensar a adesão ao wokismo, rejeitado por muitos dos tradicionais apoiantes da esquerda americana. Mas sobretudo tem de procurar um candidato inspirador para daqui a quatro anos, num momento em que os republicanos vão decidir o pós-Trump.

Como dizia a cientista política luso-americana Daniela Melo num artigo ontem no DN, “daqui até à próxima Eleição Presidencial, os democratas têm necessidade de renovação. Não é que não tenham candidatos fortes, têm. Mas o que precisam é de um novo Obama ou de um novo Clinton”. A professora na Universidade de Boston referia-se à eleição de Barack Obama em 2008, que devolveu a Casa Branca aos democratas após dois mandatos republicanos, e à de Bill Clinton, em 1992, que interrompeu uma sequência republicana que  ia já em três mandatos.

Essa figura poderá ser Harris? Há sondagens que a põem claramente favorita entre os eleitores democratas e os independentes propensos a votar democrata se houvesse Primárias partidárias. Mas o efeito das recentes eleições, com a apesar de tudo campanha entusiasta de Harris, pode estar a distorcer tudo e o mais provável é que daqui a quatro anos surjam candidatos já identificados, como o atual governador da Califórnia, Gavin Newsom, ou alguém que ainda nem sequer está no radar e subitamente pode tornar-se a estrela capaz de liderar os democratas.

Clinton quatro anos antes da sua primeira vitória era um simpático governador do Arkansas, um pequeno estado do Sul que nunca tinha dado um presidente. E o entusiasmo pela eleição de Obama como senador do Illinois pode ter sido uma alegria democrata na triste noite eleitoral de 2004, quando John Kerry perdeu para George W. Bush, mas não indiciava obrigatoriamente que em 2008 a América iria eleger o seu primeiro presidente negro. Tudo em aberto, portanto, em termos de apostas sobre quem vai ser o candidato democrata em 2028.


Diretor-adjunto do Diário de Notícias

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