A violência sexual contra crianças nos media

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Raro é o dia em que não existe uma notícia sobre criminalidade sexual contra crianças. E se, em abstrato, esta seria uma “boa notícia” – ou seja, a prova de que cada vez mais se fala sobre este tema tabu, ao qual é dada uma crescente visibilidade –, a verdade é que nem sempre esta realidade é abordada da melhor forma.

Muitas vezes, as notícias enfatizam a “violação” ou o número concreto de crimes que terão sido cometidos (por vezes, centenas), chamando a atenção para os “pedófilos” que abusam de muitas crianças. Falamos de notícias que, pela forma como são transmitidas, mais do que informar e ajudar o processo de tomada de consciência sobre este fenómeno, acabam por gerar algum alarmismo. “Eu já penso que existe um pedófilo em cada esquina”, dizia-me recentemente uma mãe. Ao mesmo tempo, o modo como a informação é veiculada acaba, por vezes, por contribuir para a perpetuação de alguns mitos sobre esta realidade, que ainda persistem, e que podem inibir um processo de revelação.

Os media assumem um papel fundamental na prevenção da violência sexual contra crianças, na medida em que ajudam a informação a chegar muito rapidamente a um grande número de pessoas, nos mais variados contextos. Aproveitemos, pois, o poder da comunicação social para transmitir, acima de tudo, informação que permita desconstruir ideias erradas, enfatizando que não existe um perfil de vítima ou de pessoa agressora, que os sinais de alerta podem ser muito subtis e, ainda, que os adultos devem, nos seus mais variados contextos, criar ambientes seguros e canais de comunicação aberta com as crianças, que facilitem um eventual pedido de ajuda.

Sugere-se ainda que a comunicação social possa dar mais tempo de antena a espaços para debate com especialistas de diversas áreas, partilhando campanhas especialmente dirigidas a crianças e a jovens, sobre proteção e cuidado. Também os diversos canais de denúncia devem ser mais divulgados, sendo que é ainda muito frequente ouvir-se dizer, por parte de pais e profissionais (especialmente da área da educação), que não sabem onde devem dirigir-se face a uma suspeita ou revelação.

Da mesma forma, é fundamental que se aposte numa maior divulgação de políticas e estratégias preventivas, muitas delas a serem desenvolvidas noutros países, até como forma de pressionar o poder político nacional a, cada vez mais, investir nesta área concreta e a torná-la prioritária na sua agenda.

Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

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