A vantagem de ser subestimado

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José Luís Carneiro assume a liderança do Partido Socialista naquela que será, provavelmente, a pior fase da sua história. Carneiro é visto por muitos, dentro e fora do partido, como um líder transitório, uma espécie de António José Seguro que, na altura certa, será destronado por alguém que não esteve disposto a assumir a liderança durante uma travessia do deserto que promete ser longa.

Mas será mesmo assim? A seu tempo veremos se José Luís Carneiro tem a resiliência e astúcia necessárias não só para sobreviver politicamente, como para devolver o partido ao lugar que sempre ocupou na democracia portuguesa. Mas é inegável que o futuro líder do PS é alguém que tem sido subestimado por muitos. Ao contrário do que se possa pensar à primeira vista, esse facto constitui uma vantagem que, se for aproveitada de forma inteligente, pode fazer a diferença entre vencer ou morrer do ponto de vista político. Que o diga Luís Montenegro, líder do PSD e atual primeiro-ministro, que durante anos foi subestimado por muitos comentadores e que, tal como Carneiro, não é oriundo da elite da capital.

Muitos dos que agora incensam o primeiro-ministro são os mesmos que, há dois ou três anos, diziam que seria um líder cinzento e passageiro. Quando se é subestimado, é mais fácil gerir expectativas. E numa era em que a política se faz cada vez mais com encenações e gritarias, o futuro líder do PS é alguém a quem os portugueses reconhecem um perfil moderado e de bom senso. É interessante notar que as sondagens que foram divulgadas antes da eleição de Pedro Nuno Santos para a liderança do PS indicavam que José Luís Carneiro estaria melhor posicionado para vencer Luís Montenegro nas legislativas.

As sondagens valem o que valem, mas esse facto não deixa de ser interessante. E se foi ignorado por muitos terá sido porque, mais uma vez, a bolha mediática passou ao lado do que pensa o país real.

Dito isto, José Luís Carneiro não terá a vida fácil e o seu caminho será muito estreito. Por um lado, não poderá deixar de dar a mão ao Governo, sob pena de o PS se tornar irrelevante nas decisões relevantes que serão tomadas nos próximos anos. Por outro, não pode deixar de fazer oposição ao Governo, sob pena de ser confundido com um “pajem” de Montenegro, para usar uma palavra utilizada há dias por Pacheco Pereira.

Neste contexto, Carneiro terá de ser um líder muito hábil, jogando com os tempos e os silêncios, escolhendo bem as batalhas e não se deixando arrastar para aquelas que, à partida, não poderá vencer. E, eventualmente, sabendo aguardar o momento em que o Montenegro cometa erros. Mas o desafio mais complicado diz respeito à avaliação que o PS faz de 18 de maio.

José Luís Carneiro terá de unir o partido, o que, à partida, o impede de renegar o passado, mas ao mesmo tempo terá de colocar o PS no divã, para que sejam compreendidos os erros que foram cometidos nos últimos anos. Os quais, ao contrário do que têm dito as fontes anónimas que agora se desdobram em comentários, não se limitaram aos erros táticos cometidos por Pedro Nuno.

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