A Transformação Digital do Mercado Financeiro nos BRICS

Será que o sonho dos países pobres poderá realizar-se em Kasan?
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Nos últimos anos, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os BRICS+, potencialmente alargados a cerca de 40 países e representando mais de 80% da população mundial, têm intensificado os seus esforços para criar alternativas ao sistema financeiro internacional, dominado pelo dólar americano e por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na Cimeira dos BRICS, entre 22 e 24 de outubro em Kasan, estão em cima da mesa propostas para a criação de um novo FMI dos BRICS e o desenvolvimento de uma moeda comum, chamada “Unit”. Estes projectos são impulsionados pelos avanços nas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e na Inteligência Artificial (IA), que estão a transformar e a democratizar profundamente o sector financeiro à escala global.

Se o “Unit” for implementado, dependerá fortemente das TIC para viabilizar transações internacionais sem intermediários como o dólar, sem necessidade de constituir reservas ao permitir que os países negociem diretamente nas suas moedas ou numa moeda digital comum, reduzindo assim a dependência de infraestruturas financeiras ocidentais.

Além disso, as TIC promovem a inclusão financeira em regiões onde o acesso a serviços bancários é mais limitado. Nos BRICS, onde muitas populações são sub-bancarizadas, o uso de smartphones, está a expandir o acesso a serviços financeiros digitais, impulsionando um desenvolvimento económico mais equilibrado.

A IA também está a transformar o sector financeiro, automatizando os processos e melhorando a tomada de decisões com base em grandes volumes de dados. No contexto da nova arquitectura financeira dos BRICS, a IA pode automatizar tarefas como o processamento de pagamentos, a análise de crédito e de conformidade, tornando os sistemas financeiros mais eficientes, com custos mais baixos e competitivos nas transações internacionais e menos dependentes das instituições tradicionais.

Outro benefício da IA é a sua capacidade de analisar dados em tempo real, essencial para prever crises e gerir riscos, particularmente em economias voláteis. Para os BRICS, que enfrentam desafios de flutuações cambiais, a IA pode antecipar choques externos e mitigar impactos negativos.

A segurança financeira é outro domínio onde a IA tem um papel essencial. Com a capacidade de monitorar transações em tempo real, a IA detecta fraudes e atividades ilícitas, como a lavagem de dinheiro. Este aspecto é crucial no desenvolvimento de uma moeda digital pelos BRICS, que exigirá sistemas robustos de cibersegurança para proteger as transações.

As blockchains, enquanto tecnologia de contabilidade distribuída, podem criar sistemas de pagamento descentralizados, eliminando a necessidade dos intermediários tradicionais. Além disso, as fintechs, empresas que combinam tecnologia e finanças, estão a desenvolver soluções inovadoras para pagamentos transfronteiriços, empréstimos peer-to-peer e investimentos digitais, promovendo a transição para um sistema financeiro mais descentralizado e democrático.

As TIC e a IA são as principais forças por trás da transformação do mercado financeiro global, particularmente nas iniciativas dos BRICS para criar um novo FMI e uma moeda digital comum, como o “Unit”. Estas tecnologias promovem a eficiência, a automação, a segurança e a inclusão financeira, sendo essenciais para a criação de um sistema económico mais justo, transparente e adaptado às realidades do século XXI.

Muitas dúvidas ainda estão sem resposta: Será que a regulação e a supervisão dos governos envolvidos vão ser capazes de garantir a confiança internacional para este novo modelo? Será que vai ser aceite pela generalidade dos agentes económicos envolvidos? Como conter a especulação e a incerteza atual do mercado financeiro? Como resistir à guerra e à retaliação financeira que entretanto se adivinha? Como vão ser resolvidas as dívidas em dólares da maioria destes países? Como irão ser rompidas as regras dos acordos de Bretton Woods estabelecidas pelas potências ocidentais em 1945 e já quebradas desde 1971?

Será que este “great reset” vai ser possível sem uma Terceira Guerra Mundial?

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