A saúde mental como determinante do sucesso dos estudantes do ensino superior
A saúde mental é um pilar fundamental para o bem-estar geral e o funcionamento eficaz em todas as dimensões da vida, desde logo porque a saúde mental é um estado de bem-estar que permite à pessoa realizar as suas próprias capacidades, lidar com os stresses normais da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir para a sua comunidade.
Como coordenadora e subcoordenadora de um curso de mestrado em saúde mental, reconhecemos que a formação dos profissionais de saúde nesta área é fundamental para ampliar as respostas em cuidados de saúde e, para tal, estamos comprometidas na formação e treino de futuros profissionais de saúde mental que possam contribuir para o desenvolvimento de sistemas de apoio integrados, garantindo que a saúde mental seja tratada com a mesma consideração e urgência que a saúde física.
Acreditamos firmemente na máxima que “sem saúde mental, não há saúde” em que se destaca a importância integral da saúde mental para o bem-estar geral de uma pessoa e a interconexão da saúde mental e física que é amplamente apoiada por pesquisas e especialistas na área. Consideramos que a promoção da saúde mental deve ser uma prioridade destacando-se os ambientes académicos, em que a mesma é fundamental para que sejam assegurados o bem-estar e o sucesso dos estudantes.
Contactar diariamente com estudantes do ensino superior permite comprovar que desde a sua entrada no primeiro ano os desafios são constantes e, para alguns, impactam de facto na sua capacidade de adaptação e de sucesso na vida académica. A entrada no ensino superior constitui-se numa transição de vida que também pode ser considerada, do ponto de vista desenvolvimental, uma crise. Estas crises podem ser antecipadas permitindo às instituições planear e disponibilizar respostas adequadas às necessidades dos estudantes, tendo em conta que o afastamento da família e dos amigos pode levar ao sentimento/experiência de isolamento e saudade.
A transição/crise de que falamos é acompanhada muitas vezes de uma pressão académica nova que contribui para o stress vivenciado, de incerteza em relação ao futuro profissional e/ou a altas expetativas de sucesso que podem gerar ansiedade, de dificuldades em estabelecer uma rede social de apoio, em que a pressão do grupo pode afetar negativamente a saúde mental, algumas vezes agravadas pela preocupação com as despesas diárias. Perante os fatores antes identificados surgem frequentemente problemas de saúde mental relacionados com ansiedade, depressão e distúrbios de sono, entre outros. Estes refletem-se diariamente no desempenho académico, muitas vezes com diminuição do rendimento escolar,
maior taxa de reprovação e abandono dos cursos; nas relações interpessoais com claro prejuízo na capacidade de estabelecer e manter relacionamentos saudáveis, podendo comprometer assim o bem-estar geral, a satisfação pessoal e a qualidade de vida dos estudantes.
É nossa convicção que uma abordagem integrada que envolve a instituição de ensino, os profissionais de saúde e a comunidade estudantil é fundamental para enfrentar os desafios da saúde mental dos estudantes do ensino superior.
Torna-se essencial que, desde o início do percurso formativo e acompanhando o processo de ensino e aprendizagem, cada instituição ofereça, de forma organizada, ajuda profissional que garanta a manutenção e/ou a recuperação da saúde mental dos seus estudantes; disponibilize programas de apoio que incluam aconselhamento e atividades promotoras da saúde mental; se preocupe em criar um ambiente académico que promova o bem estar mental incluindo ambientes de estudo saudáveis com áreas de relaxamento e atividades extracurriculares que promovam o bem estar.
É responsabilidade das instituições de ensino superior priorizar a saúde mental como esteio do sucesso e bem-estar dos estudantes.
Teresa Coelho e Clara André são coordenadoras do Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, da Escola Superior de Saúde de Santarém - Instituto Politécnico de Santarém.