'A Riviera with a view' ou os Acordos do Levante para europeu ver e calar?
Há um certo gozo neste déjà vu de voltarmos a viver as “verdades Trump”, na semana em que tudo e o seu contrário foi dito, a propósito do futuro do “hipódromo de Gaza” (sugestão minha, mas um grande parque de estacionamento resolveria o problema rodoviário de Telavive, isso é que era, com ligação TGV e tudo!).
Na abordagem séria, contextualizadora e telegráfica, são factos os seguintes dados:
Primeiro, os Acordos de Sykes-Picot, de Maio de 1916 e que definiram as fronteiras, que, mais ou menos, conhecemos hoje no Médio Oriente, duraram 100 anos, se considerarmos que apenas durante a Primavera Árabe (2011-14), foram realmente colocadas em questão e alteradas, mesmo que momentaneamente (episódio Estado Islâmico, 2013-15);
Segundo, a “proposta” americana para Gaza, parece ter sido escolhida a partir doutra proposta (Acordos do Levante), que se enquadrou nas boas vontades do final da Guerra Civil no Líbano, no sentido de estabelecer coutadas religiosas no país e na região. Vai daí, o que aparece neste mapa-proposta é uma Cisjordânia como já não o é e uma Faixa de Gaza, no Sinai e a prolongar-se desde a fronteira de Rafah até ao Golfo de Aqaba, que liga ao Mar Vermelho. Por outro lado, o mesmo também contempla o “Estreito da Palestina”, um canal a construir e que ligaria o futuro “Porto Arafat” (desta Gaza) e Eilat (de Israel), via Mar Morto, até ao “Porto de Jericó”, cidade cuja cota se encontra 260 metros abaixo do nível do mar!
Uma distopia, portanto, mas cujo “boneco desenhado no mapa”, por ter Gaza no Sinai, serve o propósito do “Pacificador”!
Terceiro, e por mencionar o figurante que se transformou em figura principal, outro déjà vu, dizer outras duas coisas:
Primeiro, que apenas concebo o tema “Riviera” como uma possível cortina de fumo, para se regressar aos Acordos de Abraão, iniciativa do primeiro mandato de Trump, os quais promovem a regularização de relações diplomáticas e comerciais entre Israel e países hostis até então. “Um glutão”, que desde 2020 já “federou a Israel”, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e República do Sudão;
Segundo, aquilo de que nos precisamos de abstrair, é que estes acordos são uma iniciativa Trump, porque são, de facto, muito bons. Funcionam como convite e vão tecendo a adesão por fases, explorando a condição humana que puxa pela competitividade, primeiro, de quem quer ser “O Primeiro” e, depois de entranhado, de quem quer também pertencer ao clube! A Arábia Saudita está agora “rodeada” de aliados aderentes a Abraão e a Israel.
Aqui fica uma chave para Israel obliterar o Hamas e Gaza ser reconstruída dentro dos padrões de Telheiras, e tudo, sob o alto patrocínio da Casa de Saud!
Politólogo/arabista
Escreve de acordo com a antiga ortografia