A restituição da dignidade ao emprego público na Era Digital. Uma parceria virtuosa entre pessoas e máquinas

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A transformação digital promete alterar a maneira como se trabalha no setor público e anuncia ganhos significativos de eficiência, precisão e produtividade, mas infelizmente ainda assistimos no Estado a muitos comportamentos semelhantes a verdadeiros robôs humanos, sem qualquer empatia na interação com os cidadãos.

Espera-se que a adoção das tecnologias e em particular a inteligência artificial (IA), possam ser usadas para que se transfiram tarefas repetitivas e burocráticas para as máquinas, como a análise de dados, a gestão de documentos ou o atendimento básico ao cidadão, permitindo que estes trabalhadores recuperem a sua autoestima como seres humanos e se concentrem em atividades mais nobres, que são melhor desempenhadas por pessoas.

Quando se automatizam tarefas burocráticas, espera-se aumentar a velocidade e a precisão no processamento de informações e minimizar os gastos operacionais com tarefas que podem ser realizadas por máquinas.

Os trabalhadores, em vez de serem descartados, podem recuperar a sua dignidade ao se concentrarem em tarefas que realmente necessitem de competências humanas, como o atendimento personalizado, a tomada de decisões complexas, a empatia, a criatividade, o julgamento crítico e acima de tudo na interação de cidadania.

A automatização de processos facilita a eliminação de intermediários inúteis, arrogantes e complicativos, ao mesmo tempo que torna os procedimentos administrativos mais simples e diretos, em que os cidadãos podem aceder e usufruir de serviços públicos digitais, assim como acompanhar e escrutinar processos decisórios, com maior transparência e sem necessidade de recorrer a favores pessoais e corruptelas.

A transformação digital deve ser obrigatoriamente acompanhada por mudanças nas estruturas, nos processos e na gestão de recursos humanos pois, se isso não acontecer, apenas se gasta mais dinheiro e se perpetua uma autêntica burocracia eletrónica, com poucos benefícios efetivos.

Numa altura em que parecem explodir reivindicações laborais em todo o setor público e em que parecem evidentes os impactos da transformação digital na sustentabilidade futura do emprego público, torna-se urgente rever as políticas e as ferramentas disponíveis para uma boa gestão dos recursos humanos.
A automatização e a modernização de processos é também uma nova forma de restituir competitividade ao emprego público mais qualificado e mais disputado pelo setor privado (médicos, professores, informáticos etc.). Pois ao lhes devolver a dignidade humana, são-lhes criadas melhores condições de trabalho, sem tarefas enfadonhas, com novas condições de aprendizagem e sobretudo devolvem-se-lhes os valores e a dignidade do serviço público, ao lhes permitir servir todos os cidadãos, em vez de se limitarem a vender serviços dirigidos a clientes lucrativos no setor privado.

A promoção e o desenvolvimento contínuo de competências ao longo da vida passou a ser uma prioridade absoluta no setor público, para uma melhor adaptação ao futuro, com ganhos de eficiência na resposta às necessidades sempre renovadas e desafiantes da sociedade. Tal como o futurista Kurzweil sugere, “a comunicação na década de 2030 ocorrerá predominantemente entre pessoas e máquinas”, o que obriga a uma profunda mudança de atitudes e de competências nos serviços públicos.

É crucial que essa transição tenha em consideração a demografia e a competitividade do mercado de trabalho, ao preservar e ao valorizar a dignidade e a importância do trabalho humano, pois ao dar às máquinas o que é das máquinas e ao restituir os valores e a autoestima aos trabalhadores, estaremos não apenas a melhorar a eficiência e a produtividade dos serviços públicos, mas também a criar um ambiente de trabalho mais gratificante e humano para o futuro.

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