A relação UE-África no domínio da segurança
Este foi o tema da conferência em que participei quarta-feira na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), a convite do Núcleo de Estudantes de Estudos Europeus da FLUL e do Observatório do Mundo Islâmico.
Apresentados os "páuerpointes" e já em período de debate, um ilustre assistente, que não aluno, coloca a pertinente pergunta, sempre de impossível resposta, "o que é que mais se pode fazer para que a cooperação funcione? O que é que está a falhar, ao fim de tantas abordagens, de tantas projecções e casos práticos? Continuamos a falhar, onde, como e ... o que fazer?"
"Saltou-me a tampa da criação", que é como quem diz, da criatividade! Olhei para a sala, vi malta nova, lembrei-me das distopias em que embarcamos nesta idade certa que combina o princípio da sabedoria no centro de um "mercado matrimonial amplo de hormonas ionizadas", lembrei-me do Orwell e do Huxley e respondi.
"Se já tudo foi tentado, resta-nos o pensamento fora da caixa, resta-nos a abordagem lúdica, resta-nos os torneios de futebol e os festivais da canção! É essa a diferença entre as distopias de Huxley e de Orwell. Enquanto para Orwell a cinzenta imagem das câmaras a cada esquina, faz dos bairros ecossistemas controlados, para Huxley a sua distopia é o presente, onde a subversão é servida enquanto entretenimento, dando, ainda por cima, ares de liberdade, de opções de escolha livre. Huxley ganhou aos pontos a Orwell, embora ambos tenham razão! Por falar em futebol, está aí a candidatura ao Mundial 2030, com Marrocos a juntar-se a Portugal e Espanha, forma de obrigar Portugal a acertar o passo com ambas monarquias, no político, no administrativo e no económico. Partindo do princípio que esta candidatura será vencedora, nunca a Espanha se viria obrigada a autorizar Portugal a abrir a ligação marítima Portimão - Tânger. É aqui que o "ganhar ou perder é desporto" deixa de o ser. Futebol é política, desporto é política, cultura é política! Ah, lembrei-me agora de um debate que em Portugal nunca passou da rama. A questão do retorno das obras de arte a África, ao ex-colonizado. Ora aqui está algo que bem explorado, configurará a condição de fora-da-caixa, não é? Não seria interessante incluir este cultural numa negociação de âmbito securitário? Salvaguardando naturalmente dois princípios lógicos, o primeiro que se o país receptor não tiver condições de perfeito acondicionamento e preservação da peça. Nesse caso fica onde está, da mesma forma que ficará (segundo princípio), se uma entidade superior, creio que ainda por criar, carimbar a tal peça enquanto propriedade da Humanidade, tal a sua importância para a História do desenvolvimento humano. Mas mesmo que o país receptor não tenha as tais condições para a preservação das peças, porque não o país doador comprometer-se a construir o tal espaço acondicionado? Não criaria este processo uma potencial onda de boas vontades de parte a parte? Não estaria o dinheiro da construção do museu, do anexo-de-museu a ter melhores resultados securitários, que o modelo habitual de cooperação e de injecção de capitais?" Não o sabemos por enquanto, certamente será a geração do lúdico para a qual falei, que terá mais liberdade e menos preconceitos, para as abordagens fora-da-caixa do futuro. No entanto, nunca fiando, que isso, dos "menos preconceitos", foi o que eu esperei da minha própria geração!
Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia