A pressa que mata
Esta semana, Portugal inteiro chorou a perda de dois jovens desportistas, vítimas de um acidente rodoviário numa autoestrada espanhola. A tragédia deixou o país em choque e trouxe de novo à tona uma realidade que teimamos em ignorar: o excesso de velocidade, provável causa da tragédia, continua a matar.
Segundo a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, só nos primeiros dez meses de 2024 foram registadas mais de 701 mil infrações por excesso de velocidade - cerca de duas mil por dia, que representam quase 68% de todas as infrações rodoviárias detetadas no país. E não é apenas uma questão de números: quanto maior a velocidade, menor o tempo de reação e maior a violência do impacto. Estima-se, por exemplo, que um peão atropelado a 65km por hora tenha quatro vezes mais probabilidade de morrer do que se for atropelado a 50km por hora. A equação é simples e fatal.
No mesmo período, registaram-se 405 mortes nas estradas portuguesas. Embora nem todos os acidentes mortais estejam diretamente ligados ao excesso de velocidade, este é frequentemente apontado como um dos principais fatores que agravam a gravidade dos sinistros.
Enquanto isso, entretemo-nos em debates sobre perceções de insegurança associadas à imigração - perceções que os dados não confirmam, nem em frequência, nem em autoria de crimes. São, em geral, estratégias políticas para manipular a opinião pública. Talvez fosse mais útil e urgente concentrarmo-nos na insegurança que realmente nos afeta a todos: a que se vive nas estradas, todos os dias, com consequências visíveis e devastadoras.
Lá fora, o mundo está a mudar. Cidades como Paris, Bruxelas, Nova Iorque e Bogotá adotaram o limite de 30 km/h em zonas urbanas. Em Oslo e Auckland, ruas mais estreitas, lombas, passadeiras elevadas e ciclovias têm ajudado a reduzir a velocidade e a salvar vidas. Estas medidas não só aumentam a segurança, como incentivam o uso de transportes públicos, melhoram a qualidade do ar, diminuem as emissões poluentes e o ruído, que é causa do stress urbano.
Mas não basta legislar, reduzindo limites de velocidade e agravando sanções. Se não houver fiscalização e punição eficaz, eles serão ignorados. Hoje, já existem sistemas com inteligência artificial capazes de detetar não só o excesso de velocidade, mas também distrações como o uso do telemóvel ou a falta de cinto de segurança. A tecnologia está disponível - é preciso encontrar o modo de a utilizar, sem invadir ilegitimamente a privacidade.
No fim, o verdadeiro custo do excesso de velocidade não se mede em euros, mas em vidas. Cada morte na estrada é uma família destruída, um futuro interrompido. A pressa de chegar mais cedo pode significar nunca chegar.
A prevenção exige fiscalização apertada, educação e, acima de tudo, uma mudança de mentalidade. Respeitar os limites de velocidade não é apenas cumprir a lei - é garantir a segurança e proteger as vidas. As nossas e as dos outros. No trânsito, cinco minutos a menos nunca valem uma vida inteira.