A pegada de carbono dos veículos elétricos
Apesar de não expelirem gases com efeito de estufa (GEE), os veículos elétricos (EV) têm uma pegada de carbono. Devido aos materiais utilizados (como alumínio e aço de alta resistência) e aos processos envolvidos (que consomem muita energia), no fabrico de um EV existe pegada de carbono, sendo esta similar à da produção de veículos com motor de injeção (ICE) - c. 9-10 toneladas equivalentes de CO2 (tCO2e)/veículo - excluindo as baterias elétricas em si.
As baterias elétricas são uma relevante fonte de produção de GEE, resultando: (i) da extração dos minérios; (ii) da refinação destes minérios em metais críticos (alumínio, cobalto, grafite, lítio, manganês, níquel); (iii) do transporte destes minérios e metais críticos, e outras componentes; (iv) da montagem de baterias de iões de lítio e sua instalação em EV.
Estudos citados pelo MIT estimam que 15tCO2e são emitidas por cada tonelada de lítio extraído (o número é maior em países onde a energia utilizada para o efeito é quase toda proveniente de fontes fósseis, como sucede atualmente). O MIT conclui que as baterias elétricas num EV importam a produção de 2,5 a 16tCO2e/ano, dependendo a quantidade exata das fontes de energia que abastecem as instalações de produção; p. ex., nas baterias produzidas na China (65% do total mundial) a pegada de carbono é bem mais elevada do que a média de 5tCO2e/ano, uma vez que o carvão continua a ser a principal fonte de produção de eletricidade.
Devido às baterias, a McKensey estima que a produção de um EV gera ≥40% mais emissões de CO2 do que a de um veículo ICE.
A produção de eletricidade é, de longe, a fase com maior intensidade de emissões no ciclo de vida dos EV (26tCO2e/EV). A descarbonização do setor elétrico através do aumento de fontes de energia renováveis e nuclear permite reduzir significativamente as emissões da fase de utilização destes veículos; mas vai demorar décadas.
A criação de redes de carregamento de EV também aumenta a pegada de carbono dos EV. A reciclagem de EV e suas baterias reduz a pegada de carbono, mas os métodos atuais de reciclagem de baterias ainda consomem muita energia, com os inerentes GEE.
Dito isto, apesar de a produção de EV ter uma pegada de carbono bem maior do que a de veículos ICE, no médio prazo a situação inverte-se uma vez que o funcionamento dos EV não produz diretamente GEE. O Departamento de Energia dos EUA estima que a maioria dos EV gera cerca de 1,2tCO2e/18 500 km (média anual), enquanto um carro ICE gera cerca de 5,7tCO2e.
De acordo com um estudo de 2023 da Kearney, Polestar e Rivian, em 16 anos e fazendo 240.000km, um EV médio produz 39tCO2e, enquanto um similar híbrido elétrico gera 47tCO2e e um veículo ICE 55tCO2e. Apesar do aumento do número de EV, a dependência de variáveis fora do controlo europeu torna o NetZero no setor automóvel uma quimera.
Consultor financeiro e business developer