A onda coreana no entretenimento veio para ficar

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Desde o seu lançamento na Netflix em setembro, o drama coreano Squid Game tem sido um fenómeno global, sendo a série original mais vista da plataforma de streaming desde o seu lançamento; o show ultraviolento sobre um jogo de sobrevivência no estilo Battle Royale gerou modismos em todo o mundo, contribuindo para um aumento na procura por biscoitos dalgona, macacões cor-de-rosa e fatos de treino verdes em estilo rétro apresentados no drama distópico. O Squid Game é o mais recente e, talvez, o melhor exemplo de hallyu, ou onda coreana, visível desde os anos 1990 e catalisado pelos apoios do governo coreano. A onda não se restringe apenas à cultura popular coreana (música, televisão e filmes); ela também gerou um profundo interesse por gastronomia, produtos (veículos, telefones celulares) e estilo de vida coreanos e criou mais oportunidades para o turismo. Tornou-se também o símbolo definitivo do soft power coreano no exterior.

O hallyu atingiu proporções gigantescas quando chegou ao mundo de língua inglesa. Propalado principalmente pela k-pop e, em particular, pela crescente popularidade e sucesso da boyband BTS, o Ocidente começou a despertar para o fenómeno. E quando a banda de sete membros começou a cantar em inglês, o seu sucesso globalizou-se. Todos os olhos estarão voltados para o BTS quando as nomeações para os Grammys do próximo ano forem anunciadas no final deste mês, depois de o grupo ter enviado o seu single em inglês, Butter, para competir na categoria Melhor Duo / Grupo Pop. Por outro lado, no mundo do cinema, o hallyu foi sentido na cerimónia dos Óscares do ano passado, quando Parasite se tornou o primeiro filme em língua estrangeira a ganhar na categoria de Melhor Filme. O sucesso continuou neste ano quando Youn Yuh-jung fez história ao tornar-se a primeira artista coreana a obter um Óscar - de Melhor Atriz Secundária - pelo seu papel em Minari.

A onda coreana tem sido global, embora com maior incidência nos países do Extremo Oriente, do Sudeste Asiático, no sul da Ásia, na Europa e nos Estados Unidos. Na China, mercado de enorme potencial para a k-pop, das séries de TV e de outro entretenimento coreano, o seu crescimento catalisou entretenimento similar chinês. Mas após uma fase de emulação e alguma réplica desta vertente cultural do entretenimento coreano, caminha-se agora numa direção oposta. E, de facto, no atual clima sociopolítico da China isso é difícil. Em setembro, o principal regulador dos media da China anunciou um plano de oito pontos que exigia "uma maior regulamentação dos programas de artes e entretenimento e pessoal relacionado". O movimento foi uma tentativa de acabar, entre outras práticas, com a entretanto demonizada "cultura do fandom". As diretrizes gerais não apenas estão a refrear o rápido desenvolvimento das indústrias criativas e de entretenimento do país - que permitiria à China melhorar o seu soft power no exterior - mas também do hallyu, uma vez que clubes de fãs coreanos e fóruns online na China também estão sujeitos a essas novas restrições. Mas com mais artistas k-pop lançando canções em inglês, bem como uma enxurrada de k-drama e filmes coreanos programados para produção e lançamento em cada vez mais plataformas de streaming, a onda coreana veio para ficar.

Consultor financeiro e business developer. www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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