A ODE PERFEITA A MESSI

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Uma final épica ofereceu o terceiro ceptro mundial à Argentina. Emoção, drama, sorrisos, lágrimas, um guião perfeito, a conceder a justa coroação a Leo Messi. Ele que, nas últimas duas décadas, discutiu ombro a ombro com Cristiano Ronaldo o estatuto de melhor do mundo, consegue à quinta tentativa o título que lhe faltava.

Na era da periodização táctica, dos data, do futebol associativo, a Argentina entrou em campo com o cartão de cidadão de cada um dos 47 milhões de compatriotas. Foram eles os fiéis depositários daquilo que é o ADN de um povo. Uma alma inquebrantável, intensidade, agressividade, a ganharem duelos atrás de duelos, assegurando em simultâneo um bloco médio/alto asfixiante para o opositor e a incapacidade de qualquer médio francês servir convenientemente Kylian Mbappé, sobretudo Griezmann, aniquilado pelo dinamismo de Mac Allister, Enzo Fernández e De Paul.

Durante 79 minutos foi notória a supremacia sul-americana. Um erro de Otamendi, porém, devolveu os franceses ao jogo e, a partir daí, foi uma ode a este jogo que nos apaixona, a envolvência que a coroação de Messi reclamava. Oportunidades de parte a parte, defesas decisivas de ambos os guarda-redes e uma decisão nas grandes penalidades que pendeu para aqueles que foram melhores durante a maior fatia dos 149 minutos de jogo. Justo, como seria também para aqueles que se apresentaram no torneio sem armas, como Pogba, Kanté, Nkunku e Benzema.

Em 1978, foi Mario Kempes o herói, Diego Maradona assumiu esse papel em 1986, em 2022 chegou a vez de Leo Messi. Um jogador único, com um talento natural inigualável. Num país de paixões exacerbadas, onde a riqueza de sentimentos está tanto em Recoleta, o bairro mais sofisticado de Buenos Aires, como em La Boca, o berço do tango.

Esta é também a história de heróis improváveis, desde o técnico, Lionel Scaloni, ao guarda-redes, Emiliano "Dibu" Martínez. O primeiro assumiu o papel de elemento agregador e facilitador, rejeitando protagonismos fúteis ou tentativas de criador da água quente. Aos 44 anos, chega ao título mundial depois de, em 1997, ter sido campeão de sub-20 na Malásia, ao lado de dois dos seus actuais assistentes, Pablo Aimar e Walter Samuel. Martínez, esse, chegou à Europa em 2010, pela porta do Arsenal, com 18 anos, mas andou emprestado longas temporadas ao Oxford, Sheffield Wednesday, Rotherham, Wolverhampton, Getafe e Reading, até que, em 2020, o Aston Villa o recrutou em definitivo. Uma autêntica parede, um monstro de personalidade, crucial no último minuto do tempo suplementar a deter o remate de Randal Kolo Muani e a levar a decisão para as grandes penalidades, onde voltou a vincar a sua importância. Coman que o diga.

Uma nota final para o meu particular amigo German Pezzella, com quem tive o prazer de trabalhar na Fiorentina. Além de grande jogador, um homem de mão-cheia. Foi ele que sucedeu ao malogrado Davide Astori como "capitão" viola, fruto do reconhecimento de forte carácter por parte de todos os que fazíamos parte desse grupo. Estou certo de que, hoje, Davide será dos mais orgulhosos por ver o seu amigo German como campeão Mundial. Incluo-me no grupo!

Diretor desportivo do RFC Seraing.
Escreve de acordo com a antiga ortografia.

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