A nova abordagem dos EUA para o Médio Oriente

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A comunicação entre a Casa Branca em Washington e Jerusalém está num período de turbulência, obviamente repleta de hesitações, principalmente do lado norte-americano. A administração Trump ajudou muito a política do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu e este não tentou esconder o seu apoio ao ex-presidente americano nas eleições. Mas isso agora acabou, e os israelitas estão à procura de uma maneira de reatar as relações calorosas com o novo presidente em Washington, o que obviamente não será um trabalho fácil.

O que se percebe até agora é que o presidente Biden não mencionou Israel no seu primeiro discurso de política externa, o que é um elemento muito importante para entender o que está a acontecer. Além disso, há uma desaceleração no cumprimento das obrigações americanas para com alguns países árabes, assumidas pelo ex-presidente Trump, a fim de os levar à normalização das suas relações com Israel. A única coisa que os responsáveis ​​pela política externa em Washington disseram até agora é que a embaixada americana ficará em Jerusalém, o que era amplamente esperado tendo em vista a posição do Congresso e as promessas feitas por todos os governos anteriores, mas foi apenas isso.

Não se deve esperar que tudo o que foi feito pelos "especialistas em Médio Oriente" de Trump seja desfeito pela "velha guarda" de volta ao Departamento de Estado. Eles sabem que não seria fácil fazer isso, mas também sabem que a apresentação da abordagem diferente tem de ser vista o mais rapidamente possível, para que todos os intervenientes daquela região a entendam. Assim, eles entraram agora no período de repensar o que fazer e o que não fazer a seguir. Primeiro, como excluir a ampliação dos colonatos judeus na Cisjordânia? Segundo a administração anterior, isso não é uma violação do direito internacional. A mesma coisa será agora o contrário? E como explicar isso a Israel e a todos os apoiantes de Netanyahu nos EUA? Os montes Golã estão sob a soberania de Israel ou são apenas conquistas estratégicas para salvaguardar o seu território, como já disse o novo secretário de Estado Antony Blinken?

Os EUA vão fornecer todos os aviões de guerra para os Emirados Árabes Unidos como Trump prometeu e até assinou? Onde está a contribuição para a paz no Médio Oriente com o envio de mais armas para a região, mesmo que seja para os aliados? Como lidar com o Irão e quando apresentar algum tipo de plano sobre a potencial retomada do acordo nuclear com aquele país? E em relação aos ataques militares israelitas à sua presença na Síria, eles deveriam apoiá-los ou não?

Continuando: como é que todas essas questões irão influenciar as próximas eleições em Israel e até mesmo no território palestino? E qual é o interesse americano nessas eleições?

As respostas serão muito difíceis e a questão central é: quando aparecerão elas na agenda do presidente Biden, tendo em vista a situação interna dos EUA com a pandemia de covid-19 e divisões da cena política, criadas pelo governo anterior? Devem normalizar primeiro as suas relações com a NATO e os seus membros? Entre outras questões, há um membro da NATO que precisará certamente no futuro da atenção especial de Washington: a Turquia.

No total são muitos pontos de interrogação ao mesmo tempo, mesmo para aqueles que acabaram de voltar ao Departamento de Estado depois de quatro anos, com todo o conhecimento dos tempos anteriores. A reformulação da política americana no Médio Oriente é uma questão extremamente sensível e ninguém se quer apressar em relação a isso. A solução passo a passo não será apreciada em Israel, que se acostumou à aceitação da sua posição na Casa Branca sem problemas.

Os EUA não vão colocar em risco as suas relações com Israel, mas o Estado judeu terá de se ajustar às mudanças e é isso que vai acontecer. Até agora, a nova abordagem americana para o Médio Oriente é a de não falar muito. Até isso é novidade.

Antigo embaixador da Sérvia em Portugal e investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE

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