A morte do Papa e a empatia
A recente morte do Papa comoveu milhões de pessoas. Os adjetivos evocados nos vários elogios fúnebres traduziam uma genuína emoção tanto por parte de fiéis católicos como de agnósticos e mesmo de ateus. O enaltecimento da figura do Papa Francisco decorre, sem dúvida, da sua atitude face aos mais humildes e dos seus discursos contra a guerra e injustiças deste mundo, demonstrando pelos comportamentos e visitas aos locais mais longínquos que esses discursos não eram meras palavras, mas antes revelavam uma genuína compaixão e empatia pelas vítimas e pelos mais desfavorecidos. Estas qualidades sentem-se, não se conseguem simular por muito tempo. Há indivíduos que são capazes de demonstrar uma aparente empatia funcional no discurso, mas a mesma mais tarde ou mais cedo acaba desvirtuada, ou contrariada pelo seu comportamento. Será sem dúvida a capacidade de genuína empatia demonstrada pelo Papa que está na base da sua sentida falta, porque infelizmente poucos líderes mundiais são capazes de exibir esta competência.
Como é que se pode definir a empatia? É possível entender o conceito de empatia segundo duas dimensões diferentes: empatia cognitiva e empatia afetiva. A empatia cognitiva corresponde ao reconhecimento emocional e à capacidade em compreender perspetivas diferentes das do próprio, enquanto a empatia afetiva diz respeito à capacidade de responder emocionalmente aos sentimentos reconhecidos no outro.
A empatia é considerada de extrema importância para o desenvolvimento, especialmente durante a infância, estando diretamente associada à qualidade dos relacionamentos interpessoais que se estabelecem ao longo da vida. A sua relevância está ligada à capacidade de compreender e conviver com as diferenças, de se aproximar do outro e de exercitar comportamentos de atenção, escuta. Trata-se, portanto, de uma habilidade social, cognitiva e emocional essencial para a vida em sociedade na medida em que está na base da formação de vínculos entre pessoas e da resolução não violenta de conflitos.
Alguns teóricos argumentam que a empatia possui componentes filogenéticos, pois representa uma característica essencial para a sobrevivência, manutenção e evolução das comunidades humanas, tendo em conta a fragilidade das crias da espécie à nascença. Sendo de notar que o desenvolvimento de comportamentos empáticos mais sofisticados implica a aprendizagem e vivências em ambientes em que esta competência é valorizada. Significa isto que é preciso educar para a empatia e isso fazer parte quer dos currículos das escolas e das atitudes de todos os educadores (pais e professores). Esta ideia não é propriamente original por já acontecer, nomeadamente em alguns países nórdicos. Por exemplo, nas escolas dinamarquesas, uma hora por semana é dedicada ao Klassens tid, uma aula de empatia dirigida a alunos dos 6 aos 16 anos. Esta prática constitui uma parte fundamental do currículo dinamarquês. A "hora da empatia" é considerada tão importante como o tempo dedicado, por exemplo, ao inglês ou à matemática. Durante o Klassens tid, os alunos partilham os seus problemas — quer estejam ou não relacionados com a escola — e toda a turma, em conjunto com o professor, procura encontrar uma solução através da escuta ativa e da compreensão mútua. Outro via usada nas escolas dinamarquesas para promover a empatia é a valorização do trabalho em equipa. 60% dos trabalhos realizadas são trabalho de grupo e o objetivo é exatamente o de aprender a colaboração e a responsabilidade de apoiar os que tem menos competências. Nas escolas dinamarquesas a competição não é favorecida, nunca sendo atribuídos prémios individuais e a avaliação é feita em função de progressos pessoais.
Também a educação parental de forma a promover-se a empatia das crianças não deveria ser posta de lado, bem pelo contrário. Vários trabalhos demonstram como o estilo de educação parental está relacionado com a promoção da empatia nos respetivos filhos, nomeadamente práticas parentais que incentivam a expressão emocional dos filhos, que incluem a demonstração de carinho, a responsividade maternal, etc. O facto de se incentivar a tomada de perspetiva do outro, a forma como os pais lidam com o sofrimento dos filhos e a orientação fornecida na resolução de problemas são também práticas que contribuem para o desenvolvimento da regulação emocional, da resolução de problemas e da empatia cognitiva.
Queremos construir um mundo melhor e mais ajustado aos discursos do Papa Francisco? Então, está na hora de educar para a empatia.
Escritora e Professora no Ispa – Instituto Universitário