A mesa redonda quatro anos depois - Parte II

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A Associação Business RoundTable Portugal (BRP) está quase a comemorar o seu quarto aniversário, tempo para um balanço. Na semana passada descrevi a génese e missão da BRP e sintetizei os trabalhos mais relevantes realizados.Esta semana fecho com uma avaliação dos resultados destes quatro anos, sugestões para aproximar ações e recursos da missão e possíveis cenários a longo prazo e respetivas implicações.

Vamos então à avaliação, começando pelos aspetos positivos onde destaco três:

• forte visibilidade dos Associados e não só dos Presidentes, conferido uma imagem de união, compromisso e determinação com a Associação e os seus objetivos.

• os programas lançados fazem sentido e têm qualidade – ao aumento de escala juntam-se três eixos adicionais: “o talento, o Estado ou os custos de contexto e uma cultura nacional de inquitede e agradecimento”. Mas o primeiro é o determinante desde o início, é a verdadeira missão da BRP.

• a intensa comunicação que tem feito desde o início gerou uma notoriedade importante para mobilizar as médias empresas – Através da ARBORIS, assessora de empresas familiares que fundei e dirijo, tenho trabalhado com médias empresas em muitos setores e zonas do País e vejo que já ouviram falar da BRP.

Quanto a aspetos com potencial de melhoria, seleciono quatro :

• os resultados concretos da missão não são seguramente os esperados em 2021 e os três novos eixos não são uma compensação

• tendo poucos ou nenhuns resultados concretos para mostrar, a brutal intensidade da comunicação obriga a BRP a marcar posição pública nos tais novos eixos, correndo o risco de erosão da sua imagem e de diluição do seu foco

• tendo falado com muitas médias empresas potencialmente interessantes para a Associação, a maioria não sabe nem parece querer saber o que a BRP lhes pretende oferecer. A BRP não está onde devia estar: no seio das médias empresas.

• e, finalmente, o trabalho do “centro de estudos”, demasiado focada em macroeconomia com uma postura académica e algo elitista, não parece aportar muito à missão da Associação junto das médias empresas.

E para o futuro? Bom, primeiro a Associação deve refletir sobre se a missão que assumiu continua válida. Se for esse o caso, as grandes empresas que a BRP quer ajudar a criar vão nascer de médias empresas que, a par da matriz familiar que torna cada uma única e tantas vezes complexa, têm visão e estratégia, liderança forte, ambição e energia e que a Associação tem de identificar e mobilizar. Assim, deixo à BRP três sugestões para concretizar os objetivos que assumiu em prol da sua própria credibilidade e reputação.

• Em primeiro lugar, construir uma radiografia para uma amostra de médias empresas nacionais “típicas” e aprofundar a análise daquelas onde o potencial para passarem a grandes empresas é maior. Dá trabalho mas faz-se e a BRP tem os recursos para isso.

• Em segundo lugar, seduzir essas empresas e trabalhar ao seu lado para selecionar o modo de crescimento mais viável (orgânico, aquisição, fusão ou mesmo alienação a um concorrente gerando uma grande empresa), fazer o diagnóstico e estabelecer um plano que as leve ao novo estatuto pretendido, com ações e métricas formalmente assumidas pelos seus acionistas.

• Em terceiro lugar, evitar o efeito adverso da intensidade de comunicação de que falámos e a sua dissonância da missão da BRP ao assumir um foco excessivo sobre tópicos como se fosse a CIP ou o FAE, podendo parecer estar a lançar fumo para esconder o falhanço na missão. A comunicação deve focar-se em resultados da missão e só aparecer quando há resultados.

Filipe Botton, o fundador da BRP que deixou a Associação, dizia em 2023 “Nós (...) temos de sair da casca, temos de ir para a rua.”. Goste-se ou não, exprimiu indiretamente o que esperava da BRP: que não fosse mais uma associação empresarial mas um exército de empresários empenhados servir o País, não só com a garganta ou com a caneta mas sobretudo com as botas na estrada.

Não obstante o valioso trabalho feito, a BRP tem diante de si a oportunidade de contribuir de forma decisiva para a aceleração do crescimento da economia, sob pena de colocar inevitavelmente em causa a reputação da Associação e dos seus próprios Associados. De facto, a reputação do BRP é chave e tem de vir da transformação de médias em grandes empresas, o resto é bonito mas não é a misssão. Citando Warren Buffett, “at Berkshire we can loose 5 or even 10 billion in a day, no problem ... but we cannot afford to loose a shred of reputation. Reputation is everything”.

A Associação Business Roundtable Portugal é um conceito demasiado poderoso para falhar e o seu futuro é afinal a reputação de cada um dos envolvidos. Está nas mãos dos Associados fazer tudo para o seu sucesso: trazer recursos da sua organização e com humildade, dedicarem tempo a visitar e evangelizar as médias empresas alvo. “Ah mas não temos tempo para isso ! Nem pessoas! “ Então a Associação vai falhar e a sua vida não será longa.

Empresário, Gestor e Consultor

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