Portugal enfrenta vários riscos à sua segurança enquanto país. O terrorismo, o crime organizado, a imigração ilegal e as ameaças no plano cibernético são alguns desses riscos. Porém, existe uma outra ameaça que coloca em causa a segurança de uma grande parte do território nacional e que se tornou o “novo normal” durante os meses de verão: os fogos florestais.Tal como sublinhou a diretora-adjunta do DN, Valentina Marcelino, no editorial da edição de ontem do nosso jornal, há muito que estão identificadas as medidas para tentar combater este flagelo. Porém, todos os anos se repete a mesma tragédia, seja por falhas na coordenação, ausência de meios ou falta de vontade política. O problema coloca-se em três níveis e, em todos eles, a atuação do Estado tem ficado aquém do desejado.O primeiro nível diz respeito à prevenção. Por um lado, temos meio Portugal votado ao abandono, devido ao facto de a maioria das propriedades florestais não serem viáveis do ponto de vista económico. Sem uma gestão racional - que inclua o aproveitamento da biomassa, a limpeza dos terrenos e a abertura de caminhos e aceiros para dificultar a progressão dos fogos - continuaremos a ter milhares de minifúndios florestais que acumulam materiais inflamáveis durante anos a fio, até chegar o próximo incêndio. E assim sucessivamente.Por outro, faltam meios de prevenção eficazes e vale a pena questionarmo-nos se, entre outras medidas, não deveria ser revertida a decisão de extinguir o Corpo Nacional da Guarda Florestal, que teve lugar em 2005. Além de vigiar as florestas de uma forma mais eficaz, este corpo poderia fiscalizar a limpeza das matas, complementando a atuação das autarquias e da GNR.Ainda no domínio da prevenção, vale a pena avaliar medidas como um controlo mais apertado das atividades das pessoas que foram condenadas pelo crime de fogo posto, como sugeriu o candidato presidencial António José Seguro na entrevista que concedeu ao podcast Soberania, do DN.O investimento em drones e outras tecnologias que permitam intervir numa fase muito inicial dos incêndios afigura-se, igualmente, um imperativo. O que nos leva ao segundo nível de atuação, que diz respeito ao combate aos fogos. Temos o número necessário de aviões, helicópteros, drones, sistemas de comunicações e outros equipamentos? A população civil - que, como disse ontem o primeiro-ministro, tem tido um papel “heroico” - pode ser enquadrada de outra forma, mais estruturada, tanto na prevenção como no combate? E as Forças Armadas podem fazer mais ou o prometido investimento na Defesa vai passar ao lado desta ameaça?Por fim, temos um terceiro nível, que é o do apoio às vítimas. Em dezembro de 2018, o Correio da Manhã dava conta de que um idoso que perdera tudo no grande incêndio de Pedrógão morrera sem receber os apoios que lhe foram prometidos. O senhor Manuel, que ficou imortalizado numa fotografia que correu mundo, onde o Presidente da República o tentava consolar, não chegou a ver a sua casa reconstruída, apesar de todas as promessas do Estado. Esta terá sido apenas uma de várias situações. Mas o Estado não pode deixar de honrar as suas promessas e precisamos de apoios rápidos às vítimas, sem burocracias desnecessárias e com valores realistas (os atuais 10 mil euros em apoios “sem papéis” serão suficientes, quando estamos a falar de casas, veículos e infraestruturas?).Diretor do Diário de Notícias