A invasão russa da Ucrânia: uma falha da dissuasão? Lições para o futuro

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Aquando da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, muitas opiniões foram emitidas sobre se a dissuasão do Ocidente, particularmente da NATO, terá falhado ou se, eventualmente, a estratégia para a dissuasão não terá sido devidamente articulada e comunicada, em função do que poderiam ser os objetivos estratégicos da Federação russa, nomeadamente voltar às fronteiras políticas da ex-União Soviética. A preparação russa para a invasão, nomeadamente a presença dum vasto dispositivo militar nas fronteiras da Ucrânia durante largos meses, assim como as informações disseminadas pelos Estados Unidos e outros aliados, indicavam estar em marcha o planeamento e preparação duma operação militar em larga escala sobre a Ucrânia. Não foi uma surpresa.

A realidade dos factos é que a NATO só tinha uma estratégia articulada para a eventualidade dum ataque terrestre da Rússia a países aliados do flanco leste. E foi nesse contexto que refinou os seus planos de defesa e o reposicionamento de forças. Nunca tinha articulado, nem comunicado nenhuma estratégia para fazer face a ataques russos a parceiros, mesmo que algumas dessas áreas tivessem sido mencionadas como áreas de interesse estratégico, para a segurança da Europa, como é o caso da Ucrânia.

Há, no entanto, que referir que havia programas de apoio à Ucrânia, nomeadamente à capacitação das suas Forças Armadas e das suas estruturas de Defesa e Segurança. Mas falharam as garantias de Segurança dadas à Ucrânia, pelos aliados ocidentais nos Acordos de Budapeste de 1994, quando da entrega, à Rússia, das armas nucleares estacionadas naquele país.

Não estava previsto emprego de meios militares ocidentais, nem da NATO, nem ao abrigo de acordos bilaterais, e assim a Rússia não equacionou esta possibilidade no seu cálculo estratégico da invasão.

Não houve, assim, nenhuma falha da estratégia aliada, porque, na realidade, ela não existia relativamente a áreas fora das fronteiras da Aliança e assim, não era objetivo estratégico da Aliança Atlântica dissuadir a Rússia de invadir a Ucrânia. Esta é a realidade dos factos sobre o ponto de vista da análise da Estratégia da Dissuasão. Claro que a tomada da decisão russa incluiu, igualmente, elementos de cálculo que falharam (em parte), como a incapacidade do Ocidente se unir e apoiar a Ucrânia na sua defesa.

No futuro (já hoje), se a Aliança quiser dissuadir a Rússia de atingir objetivos militares nas imediações estratégicas das suas fronteiras físicas, terá de articular a adequada estratégia de forma mais clara e ser assertiva a comunicá-la. E terá de ter em atenção os objetivos estratégicos da Rússia (e de outras ameaças), assim como o desenvolvimento das suas capacidades militares. Se a NATO não o quiser/puder fazer terão de ser os países aliados a fazê-lo, como aliás tem acontecido ultimamente, de forma algo desarticulada. Pior que ter uma estratégia deficiente é não ter estratégia nenhuma. 

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