A inusitada importação de talento em Portugal

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De acordo com os últimos Henley Global Citizens Report, em 2022, em 2023 e 2024 Portugal foi um dos principais destinos de milionários (HNWI – High Net Worth Individuals, por tal se considerando as pessoas com um património líquido de >US$1 milhão), tendo recebido 2.900 HNWI entre 2022 e 2024. A Henley & Partners estima que pelo menos 20% deles são empresários e fundadores de empresas, que muitas vezes criam empresas (e, por conseguinte, empregos) no país de destino; esta percentagem sobe para mais de 60% para centi-milionários e bilionários.

Na semana passada, uma publicação da World Population Review (WPR) coloca Portugal como “a história de sucesso mais surpreendente da Europa” por ter “registado um aumento de 180% no número de talento estrangeiro em tecnologia entre 2018 e 2023 – muitos deles com menos de 40 anos, mudando-se não só para trabalhar, mas para a vida”.

O WPR estima ainda que tenhamos atraído c. 7.000 nómadas digitais e trabalhadores à distância; estamos atrás da Geórgia e da Estónia, mas à frente da Tailândia, da Espanha e da Croácia

De acordo com o relatório de 2024 da Expatsi, Portugal aparece como primeira opção de destino para norte-americanos (dos quais 18% são nómadas digitais, 17% trabalhadores qualificados e 3% investidores) que planeiam sair do país.

Outros inquéritos similares confirmam Portugal como um dos potenciais beneficiários do novo programa da EU “Choose Europe for Science”.

É ainda relevante o regime fiscal dos residentes não habituais, que tem trazido muitos profissionais qualificados e empresários (em 2023 estavam inscritos neste regime 114.645 beneficiários).

Para a WPR, para além do “encanto de Portugal”, as principais razões para esta imigração de talento estrangeiro em tecnologia são: (i) políticas de vistos inteligentes (como o Tech Visa e o Digital Nomad Visa); (ii) o regime fiscal para residentes não habituais; (iii) boa infraestrutura tecnológica; (iv) baixo custo de vida; e (v) uma cultura que valoriza a vida para além do trabalho.

Esta conjugação da migração de pessoas com fortuna (muitos dos quais empresários) e de importação de talento na área tecnológica constitui uma oportunidade extraordinária para o país, sobretudo num pano de fundo histórico de contínuo fluxo de emigração de portugueses qualificados, sobretudo jovens.

Não há agências governamentais que estejam a analisar os dados relativos a este influxo de talento; é importante que a AICEP tenha meios para o fazer (e vontade). Precisamos de passar do modelo de muitos dos principais grupos nacionais – acomodados, encostados a ajudas de Estado, rentistas ou em setores de baixo valor acrescentado – para um tecido empresarial escorado numa economia assente na inovação, no conhecimento, na ciência e tecnologia, na ambição da mudança.

Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira

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