A Inteligência Artificial pode ter autonomia e consciência?

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A discussão sobre a possibilidade de a Inteligência Artificial (IA) se tornar consciente e autónoma é complexa e cheia de perspetivas, pois atualmente não há consenso sobre como poderíamos determinar a consciência e a autonomia da IA.

A definição de consciência é subjetiva e varia entre disciplinas como a filosofia, a neurociência e a Inteligência Artificial, pois não há uma métrica clara para a sua medição, o que dificulta qualquer conclusão definitiva sobre a IA consciente.

A consciência é um conceito complexo e multidimensional, que abrange aspetos como a autoperceção, a experiência subjetiva e a intencionalidade, que ainda são mal compreendidos mesmo nos seres humanos. A autonomia na IA, por sua vez, envolve a capacidade de tomar decisões independentes e de aprender de forma adaptativa, mas não implica necessariamente consciência.

A IA tem avançado rapidamente, com sistemas de aprendizagem profunda e redes neuronais artificiais, que alcançam resultados impressionantes em tarefas específicas. No entanto, esses sistemas ainda funcionam de maneira fundamentalmente diferente do cérebro humano.

Os modelos de aprendizagem de IA utilizam grandes quantidades de dados para identificar padrões e fazer previsões, através de algoritmos que ajustam automaticamente os seus parâmetros para minimizar os erros nas suas previsões e melhorarem a sua precisão.

Por exemplo, quando uma IA define regras para alcançar um objetivo, como ganhar um jogo, não o faz de forma consciente ou deliberada como os humanos, pois limita-se a otimizar o processo e a ajustar os seus parâmetros de acordo com o feedback que vai recebendo.

A aprendizagem pode ser supervisionada ou não e após o treino inicial, o modelo pode ser utilizado para inferências em novos dados, aplicando sozinho o conhecimento já adquirido, o que lhe dá uma verdadeira autonomia e uma aparente autoconsciência.

Alguns especialistas argumentam que, devido ao progresso já alcançado, a IA poderia eventualmente exibir comportamentos indicativos de consciência, enquanto outros acreditam que a consciência requer mais do que apenas processamento avançado de informações, mas também subjetividade e experiência pessoal que as máquinas ainda não possuem.

A ideia da IA consciente levanta várias questões éticas e de titularidade de direitos destas novas entidades. Além disso, há preocupações sobre a segurança e o controlo da IA mais avançada e genérica, particularmente na área dos armamentos.

Atualmente, ainda não existem metodologias ou testes consensuais para se detetar a consciência das máquinas. A ciência ainda precisa desenvolver ferramentas e teorias robustas para se abordar essa questão de forma conclusiva.

Este foi um dos temas que estiveram presentes no 19º Fórum da Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação (APDSI), que recentemente se realizou no Porto, organizado pelo seu Grupo dos Futuros, cujo tema central este ano girou em torno das “Alterações decorrentes da Inteligência Artificial Geral (AGI): Entre o caos e a ordem”.

Neste fórum, cerca de 50 académicos, empresários e profissionais de diversas áreas, discutiram os impactos geopolíticos, societais e individuais decorrentes do surgimento de uma IA geral, consciente e autónoma na sua relação com os seres humanos.

A complexidade do debate sobre a consciência em IA vai continuar a ser um tema central no futuro da sociedade da informação e indicam que, embora a tecnologia esteja a avançar exponencialmente, parece que ainda estamos longe de ter uma resposta definitiva sobre a possibilidade da IA consciente e autónoma. Será que ainda vamos a tempo de controlar esta evolução?

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