A insegurança nos estádios
O tema “insegurança” tem sido um dos mais discutidos no espaço mediático/político português nos últimos meses. Relações causa/efeito sobre o que, e quem, motiva esse sentimento têm sido ouvidas em intervenções públicas de responsáveis políticos que, mesmo sem provas diretas - e às vezes perante dados que contradizem as suas certezas -, fazem acusações usando os exemplos que dão jeito para confirmar as suas ideias.
Mas, entre tantas certezas sobre o eventual aumento da insegurança em Portugal, nenhum dos responsáveis políticos teve a coragem de se referir, em específico, a um local onde esse sentimento se sente demasiadas vezes: alguns estádios de futebol.
Quem tem por hábito assistir a jogos do chamado desporto-rei, principalmente dos principais clubes nacionais, de certeza que percebe que nem todos os locais dos recinto são seguros, pois há zonas onde quem lá está prefere insultar, lançar petardos e outros objetos, a ver o jogo e o desempenho da sua equipa.
A comprovar esse sentimento está o relatório da Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto referente à época passada (2023/24), que chama a atenção para o facto de o número de incidentes nos estádios terem aumentado: mais 2780 incidentes que em 2022/23, para um total de 8879, a maioria dos quais no futebol (8213) e, em específico, em jogos da Liga (4031).
Além dos adeptos que apenas querem ver um jogo de futebol, os clubes são quem mais sofre com esta forma de estar de alguns fãs, ou grupos organizados (vulgo claques), pois pagam milhares de euros em multas devido à posse/uso de artefactos pirotécnicos, que teve uma forte subida - de 3033 para 5673, representando 64% do total de incidentes na época passada. Também subiram os casos de interdições: 583, ou seja, um aumento de 21,1% comparativamente às 473 da época 2022-23, sendo este o número mais elevado de sempre desde que entraram em vigor as medidas de interdição.
A polícia pouco consegue fazer, pois as revistas à entrada dos estádios não conseguem detetar todos os objetos ilícitos que entram no recinto - devido à facilidade que existe em escondê-los. Até porque há uma tática destes grupos para forçar a entrada: esperam perto das portas até à hora do jogo e depois tentam entrar todos ao mesmo tempo, o que inviabiliza qualquer revista policial.
A verdade, porém, é que se estas revistas fossem feitas, mesmo assim, e estes adeptos (?) só entrassem no estádio muito mais tarde, talvez começassem a mudar de atitude.
O certo é que depois há tochas a serem atiradas para o relvado, petardos a rebentar nas bancadas e ameaças aos adeptos que não concordam com estas atitudes.
Por isso, talvez esta forma de estar no desporto deva merecer uma atenção mais rigorosa por parte de quem tem esse poder, pois a insegurança não se vive apenas em alguns bairros. Esse silêncio por parte de quem tanto fala de insegurança pode ser explicado de uma de duas formas: ou não fazem ideia do que se passa ou, como alguns dos elementos destes grupos estão identificados com a extrema-direita, não convém falar do tema...
Editor executivo do Diário de Notícias