A ignorância atrevida de Carlos Costa - a China como exemplo

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No recente livro O Governador, de Luís Rosa (L. Rosa), resultante de conversas e entrevistas com Carlos Costa (C. Costa), a propósito da sua passagem pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), escreve-se o seguinte: "A CGD detinha o Banco Nacional Ultramarino (BNU) que (...) se mantinha como um banco emissor de moeda (...). Costa vai dar grande importância a Macau, por ver aí uma possibilidade de explorar o importantíssimo mercado chinês (...). Por seu impulso, a CGD abre um escritório de representação na praça financeira de Xangai. Queria ir mais longe, mas recebeu um conselho para não o fazer". E, citando C. Costa: "Recordo-me de que na altura um importante empresário, cliente do BNU Macau, que fazia parte do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês e da Assembleia Popular Nacional da China, me disse: "(...) ainda não estão criadas as condições para a CGD ir para Pequim porque a capital sofre de vários problemas: corrupção, especulação imobiliária, penetração nos meios suburbanos do narcotráfico (...) e problemas ambientais, a que acresce um sistema jurídico pouco seguro." Depois de cuidada ponderação das informações recolhidas, optou-se por uma entrada gradual e foi solicitada autorização para a abertura de um escritório de representação em Xangai, que foi inaugurado em 2006". Acrescenta L. Rosa: "Carlos Costa nunca o confirmou, mas o empresário em questão será o atual chefe do governo de Macau, Ho Iat-seng (...)".

Que C. Costa e L. Rosa considerem que um dirigente de Macau tivesse sido membro do Comité Permanente (!) do Politburo do PCC - onde têm assento os 7 homens mais poderosos da China - é extraordinário; jamais um dirigente de Macau foi membro do Politburo. Que L. Rosa, obviamente com a conivência de C. Costa, refira que esse dirigente é Ho Iat-Seng (HIS) é mesmo não conhecer a pessoa... HIS era então o único membro de Macau no Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional da China (o Parlamento chinês, sem poder relevante), e sempre foi conhecido pela sua absoluta lealdade ao PCC e aos governantes chineses. Imaginá-lo a falar de corrupção, especulação imobiliária, narcotráfico e problemas ambientais na China - mas só em Pequim!... - é hilariante. Ter o administrador com o pelouro internacional do CA da CGD a tomar decisões sobre a expansão para o "importantíssimo mercado chinês" com base em conversas de pé-de-orelha, ao invés de consultar especialistas e analistas como os "aselhas" dos grandes bancos estrangeiros que operam no mercado chinês e lá prosperam, apesar daqueles horríveis problemas, é todo um tratado sobre a ignorância e falta de mundo de algumas elites portuguesas. E bem ilustrativo da seriedade intelectual subjacente ao exercício de branqueamento de imagem de quem deu parecer favorável à renovação de créditos das sociedades offshore criadas para a aquisição de ações próprias do grupo BCP, foi parte ativa na ruinosa expansão da operação da CGD em Espanha, aconselhou o público a investir em ações do BES já pré-insolvente, exerceu uma "supervisão bancária" digna de um Burkina Faso e vai provavelmente levar a uma condenação do Estado numa ação de responsabilidade civil por ter estado na origem dos significativos prejuízos de muitos lesados pelo BES por manifesta falta de zelo no exercício das suas funções como governador do Banco de Portugal.

Consultor financeiro e business developer
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