A guerra russa na Ucrânia

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A guerra russa na Ucrânia continua, expondo todas as vulnerabilidades do chamado equilíbrio de poderes, estabelecido no cenário internacional desde o colapso da União Soviética. Se alguém pensava que esse tipo de equilíbrio seria a base da nova ordem internacional, pronta para combater o extremismo religioso e o terrorismo, como os principais inimigos da paz no mundo, estava enganado (inclusive eu). A surpresa que veio do Kremlin em poucos dias criou relações e interdependências totalmente novas no mundo, que poucas pessoas poderiam esperar que acontecessem.

Esta é uma situação única nas relações internacionais que não tem futuro claro e está a deixar os analistas profissionais no canto escuro das puras especulações, sem qualquer alicerce sólido que sirva de base para as futuras "linhas vermelhas" a serem definidas. Estaremos a testemunhar a formação do novo mundo bipolar, com os dois blocos, ou uma espécie de caos ainda controlado que não tem objetivos claros alcançáveis, ou que tem objetivos sem possibilidades de serem concretizados? E quando aqueles que acreditam que podem mudar o equilíbrio de poder perceberem que isso não vai acontecer? Para onde levarão os seus países, em que direção e com que consequências?

É óbvio que acabámos de entrar no período das relações internacionais em que só podemos fazer perguntas, esperando que as respostas não sejam catastróficas para ninguém, porque nunca alguém criou equilíbrio entre vencidos e vencedores. E os derrotados só podem ser impedidos de decidir o futuro da paz no mundo se perderem a luta na guerra total, não na limitada que temos agora.

É difícil acreditar que o objetivo russo de deixar a Ucrânia sob o seu controlo possa ter sucesso. A Ucrânia é muito grande, a ocupação é muito cara, a resistência pode continuar para sempre, ardendo como a crise que nos pode prejudicar a todos, incluindo o ocupante. O campo de expectativas totalmente vazio não será preenchido com respostas durante algum tempo, o que está a transformar a crise atual em algo que está a poucos passos da catástrofe, da qual ninguém será poupado. É claro que alguns dos atores da crise atual pagarão mais do que outros, empurrando os seus países para uma posição instável, abrindo-se para as medidas desesperadas e ambições não cumpridas dos círculos que nunca viriam à tona sem uma grande crise como aquela que temos agora.

Temos pela frente tempos instáveis.

Investigador do ISCTE-IUL e antigo embaixador da Sérvia em Portugal.

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