A guerra de Putin e o preço do pão
Com a sua ordem para invadir a Ucrânia, Vladimir Putin precipitou uma reconfiguração profunda da política europeia. Alimentada pela solidariedade com o povo ucraniano, pela crença nos valores da democracia e da liberdade, mas também por preocupações legítimas com a sua própria segurança, a União Europeia mostrou uma nova face nas últimas semanas.
Primeiro, a disponibilidade imediata e genuína de todos para receber refugiados e ajudar quem precisa, afastando a abordagem fraturada e pouca solidária no passado recente. Depois, o compromisso em reforçar a defesa e a segurança da Europa, um tema que, aos olhos da nossa lente pacifista, foi remetido para um plano secundário durante décadas. Por fim, a vontade de penalizar o regime russo pela sua guerra e a disponibilidade para assumir as consequências que essa decisão também tem para nós.
Entre as três dimensões, a última é a que causa mais apreensão. Por um lado, a UE e muitos dos parceiros ocidentais uniram-se para aplicar sanções severas à Rússia e aos oligarcas que sustentam Putin. Por outro, a dependência energética que alguns Estados membros mantêm dos combustíveis fósseis russos dificulta a sua posição e margem de intervenção.
Essa dependência é fruto de longas décadas em que a integração, a diversificação e a autonomia energética da Europa foi adiada. A energia vinda da Rússia, a preços acessíveis, foi justificando a permanência do statu quo.
Hoje, as consequências da guerra de Putin começam a infiltrar-se nas nossas vidas através da economia. A disrupção das cadeias de abastecimento traduz-se em dificuldades para a agricultura e a indústria, e ameaça o preço de bens essenciais. As consequências sociais não tardarão a sentir-se.
Mesmo sem conhecer a extensão das dificuldades que se perfilam no horizonte, sabemos que a inação não pode ser a resposta perante inflação, desemprego, pobreza. Já a pandemia tinha mostrado que esperar que o mercado resolva não é solução em tempo de emergência.
Há dois anos, quando a covid-19 entrou nas nossas vidas, a União Europeia não ficou de braços cruzados. Pelo contrário: houve uma resposta imediata, primeiro de emergência, depois para a recuperação conjunta. Se conseguimos enfrentar a maior quebra no PIB dos últimos cem anos foi porque estivemos juntos.
Agora, perante uma nova crise económica e social, a necessidade de desenvolver a autonomia energética da UE e de integrar milhões de refugiados, é preciso evocar e renovar o espírito que nos uniu durante a pandemia para voltar a estar à altura das circunstâncias. Os tempos mais difíceis, por vezes, transportam consigo a coragem para agir.
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Vladimir Putin
As imagens de destruição bárbara de várias cidades da Ucrânia, o ataque indiscriminado a civis, creches, maternidades e pessoas que fugiam pelos corredores humanitários mostra a sua desumanidade e crueldade. A história não costuma ser branda com crimes de guerra.
Eurodeputado