A fábula do macaco
Por mais engravatado que se apresente, o negócio bancário é um dos mais simples que existe. Trata-se de captar dinheiro barato e emprestá-lo caro. Um exemplo: Fazemos um depósito de 100 euros e, com sorte, pagam-nos 2% de juros; desses 100, o banco pega em 50 e empresta, vá lá, a 8%. Ora aí está - não é astrofísica nem pirotecnia. E, no entanto, com alguma frequência é preciso resgatar algum banco na falência. O último foi o Crédit Suisse, vejam lá, um banco suíço. E não falta até quem admita que o efeito de dominó possa atingir o alemão Deutsche Bank ou a Rabobank dos Países Baixos, duas lustrosas instituições financeiras cuja reputação ameaça descer à cave. Perguntamo-nos, então, como é possível que alguns banqueiros governem tão mal um negócio tão simples? E como explicar o nervoso miudinho das bolsas quando um desses bancos estremece?
Há uns anos, dois catedráticos da Universidade de Yale, um economista especializado em comportamentos individuais e uma psicóloga cognitiva, procuraram algumas respostas, juntando uma dúzia de macacos para testarem a sua capacidade para manejar dinheiro. Escolheram macacos-prego, variedade tropical muito popular no Brasil, considerados entre os mais inteligentes da espécie. Em poucos meses, os macacos aprenderam a utilizar como dinheiro os discos prateados em forma de moeda que, periodicamente, lhes foram entregues, usando-as para comprar comida. Surpreendidos, os investigadores foram mais além e decidiram manipular os preços, subindo as uvas e baixando a geleia, com o objetivo de ver até que ponto os símios se comportavam como humanos. Pois bem, os macacos passaram a comprar menos uvas e mais geleia.
Revelando outra particularidade humana, um dos bichos tentou roubar a caixa onde os investigadores guardavam os discos prateados que faziam de dinheiro. E, pelos vistos, os macacos também sabiam poupar. Um deles, aliás, começou por acariciar a colega de jaula, e ofereceu-lhe uma moeda. Umas carícias depois, o macaco-aforrador tinha penetrado a macaca, que utilizou a moeda recebida em troca de favores sexuais para comprar uvas caras. Foi o primeiro ato de prostituição animal cientificamente documentado.
Os investigadores (que anos mais tarde utilizaram em parte as suas experiências para estabelecer a política tarifária da Uber) decidiram que aqueles macacos podiam ir mais longe e ensinaram-nos a apostar. E foi vê-los, rejubilarem quando ganhavam moedas ou desesperarem quando as perdiam.
Ora, depois de analisarem resmas de dados sobre movimentos bolsistas em Wall Street e compará-los com o comportamento da macacada, a conclusão dos investigadores foi simples e frugal: "O que faziam os símios era estatisticamente indistinguível do que fazem os humanos que investem em bolsa". Em ambos os casos, imperam a cobiça e o pânico. Ganância quando ganham e pânico quando perdem.
Por cá, depois de os maiores bancos portugueses se terem forrado de lucros no último ano, jurando pela solidez dos seus ativos, é no mínimo burlesco o nervoso miudinho que vai pelas bolsas perante a notícia de turbulência na banca americana e europeia, sobretudo depois da queda do Crédit Suisse. O nervoso bolsista não é português, é geral: quase todos como os macacos da experiência. Quanto aos equivalentes humanos do macaco-poupador e do macaco-ladrão, esses bem podem aproveitar as quedas da bolsa para comprar ações baratas, ou continuar a conceder créditos caros, ou ainda inventar um produto financeiro que ninguém vai entender, e com ele enganar mais uns tantos até à próxima crise. A natureza é sábia, mas nem todos os macacos são inteligentes.
Jornalista