A expansão económica dos Emirados Árabes Unidos em África
Depois da China, da UE e dos EUA, os Emirados Árabes Unidos (EAU) foram o quarto maior investidor em África na última década, investindo 60 mil milhões de dólares (mM$), principalmente nas áreas de infraestrutura, energia, transporte e logística.
Estes investimentos dos EAU – vistos por alguns líderes africanos como uma “nova China” – decorrem de preocupações próprias (diversificação económica, reforço da segurança alimentar dos Emirados), de preocupações geoestratégicas (investimentos nas regiões do Corno de África e do Mar Vermelho) e da análise de oportunidades de negócio na África Subsariana (ASS), zona do mundo que as projeções demográficas da ONU mostram ser a de maior crescimento até ao final do século (quadruplicando a população), com um aumento da necessidade de adequadas infraestruturas.
Os EAU importam ouro da África Ocidental, cobre da África Central e diamantes da África Austral e, em 2022, foram o terceiro maior importador de produtos africanos em geral. Os mercados da ASS importam quantidades significativas de combustível dos Emirados – tornando os EAU um parceiro crucial para a segurança energética da região.
Embora os EAU não tenham hajam investido na mineração na ASS, apesar de importar quantidades significativas de metais, é provável que ocorra uma mudança para um envolvimento mais substancial em mercados-chave para a transição energética global. Para além de investimentos em energias renováveis, a Blue Carbon (uma empresa de compensação de carbono apoiada pelo Estado dos EAU) está a tornar-se um ator chave no mercado de créditos de carbono regionais, depois de fechar uma série de acordos na ASS que, em conjunto, cobrem uma área maior do que o Reino Unido. Enquanto isso, empresas dos EAU celebram acordos de aquisição de terras em todo o continente, a fim de aumentar a segurança alimentar dos Emirados. Além disso, as grandes empresas de telecomunicações dos Emirados têm uma ampla presença em todo o continente, tanto diretamente como através da sua participação na Vodafone – que, por sua vez, detém maioritariamente a Vodacom, uma das maiores empresas de telecomunicações da região.
Os EAU também aumentaram os investimentos portuários, principalmente na costa leste da África. Os Grupos DP World e AD Ports operam atualmente 12 instalações portuárias em África.
Os EAU deverão continuar a aumentar o seu envolvimento económico e político na região em busca de oportunidades e ativos estratégicos. É importante que as empresas portuguesas – que têm rede e operação relevantes em África, mas não [fácil acesso a] capital – estejam atentas a parcerias com empresas e entidades financeiramente robustas dos EAU. Assim como os bancos portugueses.